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  • terça-feira, maio 31, 2005

    O discurso negro


    A

    s pessoas nascem, depois vão-se construindo a pouco e pouco, tal como as memórias, e fazendo do tempo o que dele bem entendem, na altura em que os dias duram semanas, meses ou anos inteiros, e às vezes até séculos, que depois vem a escola e as horas deixam de ser delas, passam a ser de outros, que lhes traçam gestos obrigatórios repetidos até à exaustão, e lhes contam vidas que não são suas, às vezes nem sequer são de ninguém, e que acabam por ser mais importantes do que aquelas que ali vão crescendo, cada vez mais regadas pelas palavras, e delas dependendo até pouco mais sobrar do que aquilo que nelas lemos; mais tarde apaixonam-se, ou pelo menos crêem que se apaixonam, conhecem o corpo, o desejo, a fome, arranjam um emprego qualquer que lhes sirva para roubar ainda mais tempo, casam-se, têm filhos ou não, aprendem a deixar de viver sozinhas, ou habituam-se a fazê-lo aos poucos e poucos, sem mais nada do que uns restos de vida todos os dias que não chegam para nada, nem sequer para se lembrarem de si mesmas e dos outros.

    Existe um lugar, fantástico, magnífico, um lugar onde se pode ser sem que nos digam que não o podemos, onde os desejos se cumprem, e onde o tempo não é tempo, as horas não são horas, onde os relógios são proibidos, onde nem sequer se sabe que existem, e as memórias são aquilo que queremos que sejam, um lugar mágico, ao qual chegam apenas os que nem dele suspeitam, ou os que dele sabem mas não o desejam porque nele sempre souberam viver sem sequer saberem como lá chegar, os que aí continuam a viver sem que dele saibam como partir, mas parece que, no entanto, a esse lugar de súbito fecharam a porta e puseram um letreiro «fechado para obras de restruturação», deixando de fora os que um dia poderiam entrar, melhor, os que se esqueceram de que um dia poderiam chegar a entrar, acabou por sobrar apenas um sabor a amargo nos lábios, toda as pessoas se esqueceram então do sentido mágico das palavras para apenas se preocuparem consigo mesmas, e mais nada ficou nas suas curtas memórias do que esse silêncio de ser não sendo, uma voz ausente que pouco mais traz consigo do que um abandono irremediável, uma cada vez maior descrença no olhar dos homens, uma quase certeza na valorização da mentira, do embuste, da calúnia, na inutilidade de tudo, até dos gestos de amor, e cá fora foi-se morrendo minuto a minuto como antes nem se sabia que era possível morrer, nada restando para além do mais vazio dos silêncios, das vinganças sem nome, que se compravam por tuta e meia a qualquer esquina, era afinal tão fácil nem sequer saber olhar nos olhos de alguém, a isto os levaram, a esse fim nos conduziram, a uma ausência de esperança, à proibição das palavras, ninguém mais acreditava nas macabras combinações em esconsas salas de reunião onde se trocavam favores, dinheiros sujos, luxuosas benesses proibidas a quem delas na verdade nunca chegou a usufruir, onde se encomendavam liquidações gerais, discursos gratuitos, palavras sem nexo, negócios obscuros, e se ensinava a não ter escrúpulos, a roubar tudo até não ficar nem a alma. Haveria quem ainda acreditasse em tal gente?

    Posted by: Rezendes / terça-feira, maio 31, 2005
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    domingo, maio 29, 2005

    O blogue do assim-assim


    A

    ndei seriamente a pensar se não seria de criar o blogue do assim-assim, que depois do blogue do não, e sendo uma pessoa até certo ponto optimista acredito que já alguém tenha criado o blogue do sim, pois este assim-assim é coisa que até pode fazer falta, para os mais indecisos, que são habitualmente a maioria, não direi silenciosa, mas pelo menos cheia de dúvidas lá isso é com certeza, colocando já de parte a possibilidade de que as dúvidas provenham da ignorância, daquele estado de espírito de quer-que-se-lixe, de o-que-eles-querem-sei-eu, ou coisa no género, até podia ser que se tornasse num útil espaço de discussão, porventura de desabafos, de espairecimento, escatológico, que é palavra que está relacionada com excrementos, e não são raras as vezes em que o espírito está tão cheio de lixo que o que apetece mesmo é despejar o saco, pois caso já alguém se tivesse lembrado de reservar tal denominação podia ainda optar pelo blogue do talvez, do mais-ou-menos, do pode-ser-que, do vai-se-ver, qualquer um destes títulos seria uma franca possibilidade face ao que estamos habituados neste nosso país, que uma pessoa vai toda contente da vida ver se consegue despachar um assunto e o mais que leva para casa é um vai-se ver o que é possível fazer, pode ser que amanhã seja possível, que hoje já estamos com muito serviço, isto talvez dê ou talvez não, quem sabe, o que não é de desprezar, o blogue do quem sabe, um tudo-nada diferente de um jogo que havia em tempos que já lá vão e que era o quem sabe, sabe, outro que agora me veio à memória era o do sabichão, e desses há muitos por aí, ao que dizem, que eu nunca tirei a prova dos nove para ver se conferia, coisa de somenos, poder-se-ia dizer, que tal prova nos dias que correm já não prova nada, dizem os pedagogos, desses que podem ser englobados na categoria logo acima e que são os que sabem tudo e mais alguma coisa, até como é que se deve dar aulas sem terem dado uma aula que fosse na vida, pelo menos daquelas com livro de ponto, sumário e planificação realizados com a devida antecipação, e com trinta pares de olhos à espreita, a ver quando é que o desgraçado ou a desgraçada se distrai para lhe caírem em cima com todos os disparates de que são capazes, na maior parte das vezes nem é preciso esperar o momento mais propício, é logo à entrada na sala, lá dentro então nem se fala, o melhor é nem falar nisso, que nem com prova dos nove a coisa vai lá, quanto mais a contar pelos dedos, depois é o que se vê, nem uma contita de somar, quanto mais de multiplicar ou uma raiz quadrada, uma regra de três simples então é despicienda, coisa inútil, afinal servirá para quê aprender tais cálculos, para nada, certamente, isto dirão os que sabem tudo, os que, filosofando, dirão que só sabem que nada sabem, o que já é saber demasiado, isto acho eu, que sei alguma coisa, mas pouco, o que é preciso é ser modesto e não andar por aí de crista levantada como quem já não tem nada a aprender, por isso pensei nesses assim-assins, nesses talvezes, ai, ai, que já me vão aqui bater pelas audácias com o português, se bem que já estou habituado, por isso mais coça menos coça tanto faz, que podia ser outra alternativa, o tanto-faz, assim-como-assim mais uma, vá-lá-que-não-vá outra ainda, se ficasse aqui a matutar no assunto chegava a mais umas quantas, isto tudo só porque nem-sim-nem-não.

    Posted by: Rezendes / domingo, maio 29, 2005
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    sexta-feira, maio 27, 2005

    Aviões de papel


    D

    epois de ler numa das revistas da especialidade noticiosa, dessas que aparecem todas as semanas nas bancas e que, ao que parece, conseguem ainda algum sucesso numa sociedade pouco dada a comprar jornais e revistas, coisa estranha quando o que mais enche as ditas bancas são revistas de todos os tipos e espécies, que há cada vez mais gente a utilizar aviões de luxo para as suas viagens de negócios e de recreio, convenço-me de que os portugueses, na sua maioria, o mais que conhecem de aviões privados são aqueles feitos de papel, e mesmo esses qualquer dia já nem se podem dar ao luxo de conhecer, que com os ambientalistas a baterem-lhes de um lado por causa das árvores que se abatem para fabricar papel e os economistas do outro, a cortar nos gastos e a dizerem que o que é preciso é produzir mais e melhor, e já que os aviões de papel não têm grande efeito na produtividade nacional, a não ser que se ponham para aí a inventar um qualquer modelo que dê lucro e apareça alguma empresa interessada em investir no negócio, ao que se vêm juntar os aumentos de impostos e a obrigação de poupar e evitar desperdícios, para já nem falar do facto de a União Europeia deixar de autorizar os aviões de papel que não sejam de tamanho normalizados e não apresentem o símbolo CE, um dia destes acaba-se-lhes mesmo a mania, ai não que não acaba, que aviões privados só para os realmente endinheirados, nem à boleia um desgraçado poderá andar, que mais tarde ou mais cedo é preciso cartão para estender o polegar, e se este também não possuir a dimensão estipulada e o gesto não estiver de acordo com o parametrizado, nem pensar, vem logo um fiscal perguntar se o indivíduo está devidamente registado como pedidor de boleias, se está inscrito no sindicato ou na ordem, saca da régua para medir o polegar, digitaliza-o e compara-o com a base de dados, em caso negativo lavra logo um auto para uma operação plástica obrigatória de substituição do referido dedo, com apresentação regular nas autoridades após a intervenção para verificação do tamanho e da regularidade do gesto, e se lá foi devidamente tatuado o simbolozito CE, sem lá estar é que nada feito, acho que já faltou menos para que tais avarias não passem pela cabeça dos engendradores de normas europeias, que a criatividade que por lá vai é mais do que muita, sempre há que justificar o dinheiro que ganham e o tempo que lá passam, a parte do orçamento que nisso se gasta é que fica bem calada, eu, pelo menos, ainda não vi para aí escarrapachadas nos jornais tais contabilidades, diga-se de passagem que as páginas de economia não são as minhas preferidas, pois não são, mas também não faço com elas aviões de papel, vão é para a reciclagem, juntamente com as outras todas, senão ainda me vêm mas é acusar de não estar a contribuir para o desenvolvimento sustentado, de poluidor inveterado, Deus me livre, que é maneira de dizer nem pensar.

    Posted by: Rezendes / sexta-feira, maio 27, 2005
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    quinta-feira, maio 26, 2005

    Quando me lembro do mar


    Quando me lembro do mar
    recordo sempre o relógio no cimo da torre
    de onde avistava ao longe
    as ondas quebradas junto à costa.
    Na praia, a água era mais quente quando chovia,
    e corríamos para a sentirmos no corpo
    por entre beijos escondidos
    e um desejo que não tinha fim.
    Hoje ainda fico horas, perdido,
    a tentar lembrar-me de um som distante
    que os prédios agora fecham lá fora
    como se fosse proibido lembrar.
    Posted by: Rezendes / quinta-feira, maio 26, 2005
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    quarta-feira, maio 25, 2005

    Mais vale ser despedido do que ser morto


    F

    ace a tanta poupança e com a crise de que toda a gente fala, mais vale nem sequer pensar em gastar dinheiro, e amealhar moeda a moeda à semelhança do Tio Patinhas, se bem que o pior é que, com a ladroagem que para aí vai, nem se pode sequer dizer que se anda a guardar dinheiro, e ainda menos anunciar quanto se ganha, que isto do IRS anda pior do que a polícia secreta do tempo da velha senhora, que eu nunca conheci, a senhora, diga-se, nem posso sequer testemunhar que fosse tão velha como se dizia, ou mais nova do que ameaçavam, dos velhos que me lembre só o do saco, que era historieta anunciada para os que não se portavam como devia ser, mas lá a polícia tive por diversas vezes o desprazer de dar de caras com um ou outro, e uma vez até me procuraram em casa por andar metido em esquerdismos e em cooperativas culturais, depois foi vê-los a mirar os livros e os discos a que haviam de deitar a unha, se bem que a minha impressão foi de que estavam a olhar que nem boi para palácio, que eram os títulos que contavam e mais nada, para além de um ou outro autor daqueles proibidíssimos e cujo nome não enganava ninguém, nem sequer os mais distraídos apreendedores, por isso o que me admira é que venham uns para aí afirmar nos jornais que querem, que exigem, indemnizações de cento e tal mil euros por terem sido metidos na rua de administrações de uma casa que há lá agora no Porto e que andou enguiçada durante uma data de tempo até ser estreada com não sei quanto tempo de atraso e não sei que défice em relação ao que se pensava que iria custar, e isto quando andaram para aí a anunciar que iam dar às famílias dos agentes mortos em serviço um pouco mais de noventa mil euros, é bem de ver que mais vale ser despedido do que ser morto, e se for por incompetência ainda melhor, que se uma pessoa é posta no olho da rua porque não serve para gerir seja o que for ao menos a incompetência não é tanta ao ponto de se deixar matar, eis uma lógica interessante, esta, para já não falar de moralidades, que nisso não pretendo dar lições a ninguém, não sou daqueles que andam de altifalante em punho a dizer que este aquilo e o outro aqueloutro, as minhas verdades, se alguma vez as tiver, planto-as aqui no meu quintal e está feito o serviço, mal ou bem, é o melhor que posso e sei, e garanto que não me vão ver por aí pelas televisões, muito menos ouvir-me pelas rádios, nem ler-me nos jornais, a apregoar cantilenas de maldizer, isto dos trovadores é coisa do antigamente, depois ainda vinha o escárnio, não, nem me meto nisso, agora que há coisas que incomodam lá isso há, anda para aí uma cambada de chupistas a ver se levam o doce todo e depois rapam a panela, com mais um bocadinho de audácia ainda levam a panela mesmo depois de vazia, se calhar ainda vão dizer aos amigos que aquilo é que é uma injustiça, tanta dedicação para nada, bem, nada, nada, não será bem assim como dizem, que gente como essa não se contenta com pouco, vai-se a ver e porventura ainda escapam aos impostos, que os outros que morreram, esses é que já não os pagam com certeza, fica a cá a família a penar e a pagá-los por eles. Haja tino. Francamente.

    Posted by: Rezendes / quarta-feira, maio 25, 2005
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    terça-feira, maio 24, 2005

    Histórias infantis dos tempos que correm


    O

    universo das histórias infantis está cada vez mais curioso, que com a criatividade dos autores vão-nos surgindo interessantes inovações tanto na linguagem como nos conteúdos, passado que vai o tempo daquelas fábulas com lobos mais maus do que o pior dos terrores que perpassavam pela imaginação de quem as ouvia contar, porquinhos espertos já foi chão que deu uvas, e plantar feijoeiros então é assunto de outras eras, que com o cimento que para aí vai já nem resta pedaço de terra onde se plante seja o que for, nem sequer amendoins, que vêm todos do estrangeiro, para além de já pouca gente saber como é um feijoeiro, para nem sequer falar nas plantas de amendoins ou tremoços, ainda se fosse árvore de hambúrgueres com batatas fritas talvez a coisa pegasse, ou porventura de latas de refrigerantes ou de cachorros quentes, e já me perdi das histórias, que o que ia mesmo dizer era que aqui há tempos chamaram-me a atenção para um livrinho curioso, que era sobre uma toupeira a quem tinham cagado em cima da cabeça, e então o enredo andava à volta da incansável busca do culpado de tais desaforos, uns porque eram grandes demais e portanto improváveis face ao tamanho da prova de culpa, outros porque quase nem se viam os dejectos e estavam assim fora de causa, até por fim tal demanda dar os seus resultados e surgir a vingança, uma bela torcida em cima da cabeça do energúmeno, se bem que com reduzido impacto, face ao tamanho da cabeça do imprudente e da quantidade da merda despejada, o que é um belo exemplo da moralidade que para aí anda, vejam só se nos puséssemos a fazer o mesmo para com os responsáveis de tanta porcaria que tem surgido nas políticas actuais, o mais certo era um sustentado desenvolvimento das indústrias de papel higiénico, que agora até fabricam produtos de luxo, de cor preta, para os maníacos da decoração de casas de banho, ou então para dar com a loiça da mesma cor e com as torneiras douradas, belo exemplo é este da criatividade que para aí anda e do que se mete na cabeça das crianças, que estas fábulas actuais andam cada vez mais interessantes, cuidando do aspecto cultural dos seus destinatários, dando perfeitos exemplos das atitudes de cidadania e da inutilidade das casas de banho, se bem que, é preciso que se diga, ninguém gosta de acordar com uma torcida em cima da cabeça.

    Posted by: Rezendes / terça-feira, maio 24, 2005
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    Sonhos



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    Posted by: Rezendes / terça-feira, maio 24, 2005
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    sábado, maio 21, 2005

    Urgências


    O

    s serviços de urgência dos hospitais lisboetas têm que se lhes diga, que o que vale a quem os frequenta é ir doente, mas não demasiado, caso contrário a hora e tal de espera apenas para que lhe façam um primeiro diagnóstico pode dar pano para mangas, até para bater a bota sem dizer nem ai nem ui a qualquer espécie de médico que lhe ponha a vista em cima, ou melhor, que não lhe tenha posto a vista em cima, nem em baixo nem em parte nenhuma, vai-se esperando e mais nada, já nem é nada mau ter um lugarzito para esperar sentado e uma máquina de cafés e outras bebidas em tamanho minúsculo servidas em copos de plástico, o que vale é que os médicos são, regra geral, simpáticos, embora um tanto ou quanto impacientes, eu cá não tenho razão de queixa, que quando uma médica já de saída, penso eu, que podia estar a entrar, também não lhe perguntei nem me ia meter na sua vida, me viu para ali perdido nos corredores perguntou-me se precisava de ajuda e até me levou ao sítio para onde tinha que ir, facto pelo qual lhe fiquei agradecido, as indicações internas, pelo menos por ali, escasseiam e deixam uma pessoa pior do que estrangeira em terra de estranhos, até ali ia tudo mais ou menos bem, e digo mais ou menos porque estes hospitais estão para ali plantados no meio de ruelas de sentido único, se a urgência é muita fica-se às voltas no trânsito até dar com a porta de entrada, se é que se chega a fazê-lo, e depois é um vê-se-te-avias para lá deixar quem está aflito, mas o pior, sem dúvida nenhuma, é a espera, que nunca mais acaba, deu para ler o jornal de ponta a ponta, ficha técnica e tudo, o que não é desvantagem, fica-se a saber quem é que lá trabalha, quem escreve aquelas palavras que tomamos por verdades e que vamos engolindo dia sim, dia sim, aproveita-se para ver chegarem e partirem as ambulâncias, para os mais curiosos até pode ser que lhes calhe daquelas emergências mais aparatosas, nesse caso será dia de sorte, que depois levam assunto que chegue para contar à família e aos amigos, e por ali passa todo o tipo de pessoas, com aspecto de quem tem dinheiro, com ar de quem não tem onde cair morto, as que falam e não se calam, as que vão desfiando o rol das doenças todas, desde a tenra infância até ao tempo presente, com pormenores de fazer inveja ao mais aprofundado dos diagnósticos e com uma capacidade mnemónica que me deixa de cara à banda, há ainda os que só tentam meter conversa, e os que falam sozinhos, os que passam a vida a dar troco aos funcionários das informações, os que apreciam da cabeça aos pés quem quer que lhes passe à frente dos olhos, os que ficam pespegados de pé no meio dos corredores durante mais de uma hora, quase sem se mexerem, que não sabia haver nos hospitais concursos de homens-estátua, mas fiquei a saber que há, sim senhor, e até são bem bons naquela actividade, como se pode ver pela conversa também andei na observação, mas ao fim de umas quantas horas para ali sentado o que mais se pode fazer senão dar em mirone?

    Posted by: Rezendes / sábado, maio 21, 2005
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    quinta-feira, maio 19, 2005

    Uma tristeza infinda...


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    Posted by: Rezendes / quinta-feira, maio 19, 2005
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    terça-feira, maio 17, 2005

    Como começar nos pontos e acabar sem pagar as favas


    U

    mas vezes as frases saem assim, mais longas, que há quem prefira vê-las curtinhas, com pouca conversa, para não dar demasiado trabalho a ler, o que não é bem o que se passa com esta minha maneira de escrever, que o meu caso, como diria o Régio, está mais vocacionado para uma data de palavras enfileiradas sem pontos finais nem pontos de outras espécies, se bem que de quando em vez lá uso um ponto e vírgula, que é uma maneira de se dizer atenção, o tom da conversa vai mudar ligeiramente, mas cuidado que a conversa ainda é a mesma, porventura com um ligeiro desvio em relação à toada original, para os desatentos não perderem o norte, com algumas reticências, fica desde já a chamada de atenção, que os desatentos não ligam a miudezas dessas, ou é ponto ou não é, isto de meias-tintas não convence ninguém, nem é vírgula nem é ponto, as coisas que os calígrafos inventam para dar trabalho a quem lê, e ensinar regras dessas então é que são elas, os mais reticentes então não as aceitam nem por nada, como é que se pode engolir uma coisa assim meio insossa, diriam, eu cá acho que é também questão de sensibilidade, e ensinar a ser sensível dá uma trabalheira dos diabos, ai não que não dá, e além do mais pode correr-se o risco de cair em exageros, também não vale a pena entrar em desarmonias por causa de um sinal de pontuação, aquele ponto e vírgula fez-me ir às lágrimas, francamente, é demais, é excessivo, ignorá-lo é que também não, olha ali aquele ponto e vírgula a dar-se ares de importante, está mesmo a pedir para ser ignorado, desprezado, espezinhado, isso não, que se ele lá está é porque o puseram, se calhar nem tinha pedido que o metessem ali, para ser aviltado desta maneira pelos leitores mais indolentes, já com as vírgulas é outra coisa, sem elas é que nada feito, não vou a lado nenhum, fazem-me muita falta, meto-as a torto e a direito, tentando embora cumprir as regras, que nisso elas são bastante exigentes, olá se são, é uma pessoa metê-las à toa e põem-se a olhar para a gente de sobrolho franzido, a ferver de indignação, meterem-me ali entre um sujeito e um predicado, que vergonha, que falta de consideração, por mim, pelo sujeito e pelo predicado, isto para já nem falar do resto da frase, de quem vai ler uma coisa dessas, que ignomínia, cortar assim o fôlego a uma pessoa sem dar cá aquela palha, o ponto que se avenha lá no fim que entretanto vou aqui mandando eu, a vírgula, e se quiserem saber como é então que enfiem um ponto de interrogação ou de exclamação, mas sem exageros, um chega e sobra, que já se sabe que é interrogação e exclamação, ou será que não sabem?, pois é, lá está a virgulazita da ordem, a dar alguma sequência à conversa, a fazer com que isto não vá por aqui fora sem método nem disciplina, afinal de contas se juntamos uma letra a outra porque é assim que fazem sentido também as vírgulas são indispensáveis, que isto sem elas não ficava nada claro, mesmo nada, confundia-se tudo e depois quem pagava as favas, quem era?, o mais provável era sobrar para mim, e as favas hoje já não estão nada baratas, ainda por cima já não se pode pô-las nos bolos-rei nem nada, que a Europa não está para brincadeiras nem quer ver as pessoas com dentes partidos, para grande desgosto dos dentistas, que só à conta das favas dos bolos-rei lá iam engrossando a clientela, e como não há favas para ninguém já não há quem pague os bolos-rei do ano seguinte, por isso eu cá recuso-me a pagá-lo, não pago as favas, se quiserem vão aldrabar para outro lado, que as favas nos bolos acabaram-se.

    Posted by: Rezendes / terça-feira, maio 17, 2005
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    domingo, maio 15, 2005

    O intrépido salvador



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    Posted by: Rezendes / domingo, maio 15, 2005
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    sábado, maio 14, 2005

    Fátima, futebol e... sardinhas


    N

    ão é que seja admiração nenhuma, nem caso para ficar de cara à banda, nada disso, aliás nem se trata de acontecimento fora do vulgar, extraordinário, motivo para primeira página de jornais, nem nada que se pareça, digno de parangonas no Tal e Qual ou no Independente, muito menos no 24 Horas, facto que dê origem a investigação jornalística de fundo no Expresso ou na Visão, aliás antigamente, ao que consta, era mais do que habitual, mas como eu não tinha televisão nesses tempos não posso aqui corroborar tais alegações, mas vi hoje no telejornal do primeiro canal uma alargada reportagem sobre Fátima, logo seguida, de imediato, sem direito a intervalo nem nada, de outras peças sobre futebol, ficando desde logo à espera do fadinho da ordem para se cumprir a trilogia, e qual não é o meu espanto que o que veio depois foram as sardinhas e os chineses, o que também não está mal, é pena é sardinha escrever-se com ésse e não com éfe, andou lá perto, se eu fosse belfo, que não é desprezo nenhum (e lá vai mais um tiro no politicamente correcto, que não foi ao fundo por pouco, como o porta-aviões da batalha naval, o que vale é que é grande e não se desgraça só com uma rajada de três tiros), acertava mesmo na mouche, que em português de lei é mosca, mas como acertar na mosca é coisa de mau gosto, diz-se assim à francesa, que é mais fino e soa bem, acertar na mosca dava logo a ideia de brincadeira de marmanjões num urinol de terceira categoria, pois as sardinhas andaram lá perto, que é tradição também antiga, se bem que essa dos chineses é que é mais recente, tenho a impressão que data do Euro 2004, do ano passado, portanto, que desataram a abrir lojas por todos os lados só para nos embarretarem com umas bandeiras nacionais aldrabadas, mas também a bandeira nacional já está mais do que farta de ser aldrabada, que uma pessoa não vê duas iguais, umas têm os castelos com porta e outras sem porta, umas com riscos outras nem por isso, quem ler estas linhas há-de dizer e eu ralado(a), como se isso fosse importante, mas é, sim, senhor, ou sim, senhora, dependendo do sexo dos leitores, é mais do que importante, é fundamental, é primordial que não se brinque com os símbolos nacionais, é como as sardinhas, na brasa ou em lata, o atum já não digo, que vem de mais longe, mas as sardinhas são aqui da nossa costa, desde tempos imemoriais que é comida do povo, já o Mal-Cozinhado vendia sardinhas, não tínhamos cá bacalhaus nem natas nem nada disso, e agora vamos exportá-las para a China, só faltava aquela gente toda dar cabo das nossas sardinhas, que já são poucas, nem com o fim da Feira Popular conseguiram que elas crescessem e se multiplicassem, mas também queriam o quê?, as sardinhas não passam a vida a fazer mais sardinhas, não pensam só nisso como as pessoas, ora essa, têm mais preocupações na vida, que isto de ser sardinha dá muito trabalho, uma data de ralações, educar os filhos, ir à escola (e aqui os ingleses é que a sabem toda, que chamam escolas àquelas ranchadas de peixes a que nós damos o nome de cardumes), e ainda por cima agora querem que aprendam chinês, o que não é nada fácil, mais valia apenderem a dar pontapés numa bola e irem de promessa a Fátima.

    Posted by: Rezendes / sábado, maio 14, 2005
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    sexta-feira, maio 13, 2005

    À luz de vela... ou quase


    O

    que é para mim profundamente estranho é a razão inversamente proporcional entre a quantidade de iluminação existente nas casas das pessoas e a sua idade, já que, ao que parece, quanto mais as pessoas vão envelhecendo menor é a potência das lâmpadas que utiliza, o que deverá por certo ser uma questão que intriga uma boa parte dos oftalmologistas, os quais pretendem que com a idade se vê cada vez menos, quando certo, certo, é que as pessoas com a idade usam menos luz para ver seja o que for, ou então é por já não andarem às pressas e terem tempo para tudo e mais alguma coisa é que essas pessoas, face à inusitada perda do mais minúsculo dos objectos, conseguem levar uma eternidade à sua procura, pensando certamente, e com razão, que tal coisa não tem pernas para andar e por isso há-de aparecer mais cedo ou mais tarde, cá para mim o ideal para essas pessoas era ainda a luz de vela, de candeeiro a petróleo é que não, porque deita mau cheiro e dá uma trabalheira danada andar a arrastar garrafões de petróleo pela rua fora, que ainda por cima é um produto inflamável, para já não falar nas torcidas que se tem que enfiar no sítio correcto e nos torcicolos que se sofre para meter aquilo correctamente, deve ser exactamente por isso que ainda falam em lâmpadas de 25 velas, que muitas vezes é o que usam, com 25 velas faz-se uma festa, e chega muito bem, não se cansam de afirmar, que não é preciso exagerar, ainda me lembro da sonolência que me dava em casa dos meus avós, com tal iluminação e o semi-silêncio que por lá imperava, depois do jantar então era uma completa pasmaceira, que não via a hora de voltarmos todos para casa, e nessa altura nem tinha voto na matéria, por isso era aguentar estoicamente o resto do serão e tentar não adormecer que era coisa que ficava mal, sevícias destas acho que já nem se usam, mas as coisas eram assim mesmo e ai de quem mostrasse cara de contrariedade ou se pusesse com lamúrias, a minha avó lá jogava um bocadinho às cartas e aproveitava a pouca luz para fazer uma data de batota, e uma belíssima justificação para quando era apanhada era que não tinha reparado, que não tinha visto bem, como se a culpa das lâmpadas de 25 velas não fosse dela mas das crianças, que nem sequer chegavam aos candeeiros do tecto, nem empoleiradas em escadotes, se fosse agora saía mas era um g'anda lata e estava o caso arrumado, quando comecei a ler as primeiras letras lá me esforçava por conseguir decifrar umas linhas nos livritos que me autorizavam a levar para ajudar a passar o tempo, debaixo do olhar inquisidor do meu avô, meio escondido por detrás do fumo dos charutos, cá para mim a luz chegava-lhe e sobrava-lhe, que para ficar sentado a fumar charutos não é cá precisa grande iluminação, ainda para mais assim não se via bem o que é que se estava a comer ao jantar, que era invariavelmente galinha, que para mim se transformava em carapaus, que eu galinha nem vê-la com pouca luz, quanto mais com muita, e no final lá surgia o pão-de-ló da minha avó sempre meio afundado, o meu pai dizia que ela se tinha sentado em cima, era a piada habitual, para observar tais iguarias também não era preciso mais do que lâmpadas de 25 velas, e se calhar se toda a gente pensasse da mesma maneira não andávamos a importar electricidade do estrangeiro e éramos todos mais poupadinhos.

    Posted by: Rezendes / sexta-feira, maio 13, 2005
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    terça-feira, maio 10, 2005

    Fui apanhado pelo Fahrenheit 451


    H

    á coisas ainda piores do que os responsos a Santo António, que são as cartas em cadeia (nem sei bem se é assim que se denomina tal coisa) a prometer uma catadupa de maldições, maus olhados e azares de todos os géneros e feitios a quem se atrevesse a quebrar a corrente, como a maldição de que me lembro de tempos recuados, chuva, nevoeiro e tempestades, feitiço de Cleópatra, e nunca percebi para que tais coisas serviam, deve ser da minha ingenuidade congénita, só pode ser isso, mas houve quem se tivesse infelizmente lembrado de me enviar um questionário de cadeia, desses inventados por um sádico qualquer para atazanar os amigos e mais tarde infectar uma data de desprevenidos como eu, um senhor que, além de vir cá a casa abarbatar-se com as vitualhas que lhe ofereço de quando em vez, ainda por cima depois me apresenta a conta sob a forma de perguntas. Só podia ser coisa de advogado...


    Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
    Poderia alegremente dizer um livro de cheques, mas como hoje em dia uma tal coisa já peca por vetustez, pelo menos para o comum dos cidadãos, e cheques carecas são o que mais abunda por aí, resolvendo desde já precaver-me contra investigações judiciárias, prisões preventivas, penas suspensas e sei lá mais que sarilhos, e ainda por cima porque este negócio me foi passado por um advogado, sendo por isso devido algum respeito ao cumprimento da lei, poderia muito calmamente enveredar por uma das minhas manias e dizer que era A Balada do Mar Salgado do Hugo Pratt, mas como não deve ser nada fácil decorar texto e desenhos, ainda para mais com o jeito que tenho, o melhor será ficar-me mesmo pelas letras, e referir o Peregrinatio Ad Loca Infecta, de Jorge de Sena, que lugares nauseabundos é o que mais começo a encontrar sempre que me dá na gana meter-me por aqui e por ali.


    Já alguma vez ficaste apanhadinho por uma personagem de ficção?
    Pelo anjo da Barbarella quando li a história e vi o filme, que me meteu cá uma inveja na altura que nem vos digo nem vos conto, isto para calar bem caladinho alguns outros momentos em que fiquei verde e não foi por ser sportinguista nem nada que se parecesse, mas houve mais tarde alguns personagens masculinos dos livros do Henry Miller que me deixaram ainda mais de cara à banda, vai-se a ver e é algum tipo de defeito ou tara, e se não for é mesmo cá uns formigueiros que nos atacam assim de repente quando uma pessoa vai passando os olhos por estes livros ou por aqueles, ele há coisas que de vez em quando nos passam pela vista que nos deixam um bocado atordoados, já fiquei assim por diversas vezes, já, sim senhor, umas mais, outras menos. Mas também não me importava nada de passar por Corto Maltese...


    Qual foi o último livro que compraste?
    ...xa cá ver, acho que foram três, em simultâneo, quatro, se contar uns dias antes, por isso não vou fazer discriminações, e paguei-os com cartão multibanco, que é coisa que dá bastante jeito para uma pessoa não andar por aí com a carteira cheia de dinheiro que ainda se arrisca a levar uma traulitada e a ficar sem nada, e se apresenta queixa depois ainda vêm juízes e advogados, para já não dizer polícias, acusarem uma pessoa de andar com dinheiro, mas para que é que o senhor queria andar com dinheiro na carteira?, estava-se mesmo a ver que andava a pedir que o roubassem, nunca ouviu falar em cartões de débito ou de crédito?, se bem que há que se entretenha na mesma a pedir emprestados os cartões e os respectivos códigos, mas esses livros não foram roubados nem nada, que não se fique com a ideia de que ando a roubar livros nas livrarias nem seja onde for, passo a nomeá-los, de João Aguiar, O Jardim das Delícias, Edições Asa, Porto, 2005, ISBN 972-41-4144-6, para que fique aqui a informação completa (está-me a parecer que isto é uma sondagem patrocinada pelas editoras em vésperas de feira do livro), João Miguel Fernandes Jorge, Castelos I a XXXV, Averno, sem lugar de edição, 2004, sem ISBN (para minha grande tristeza), de Maria José Guerreiro Duarte, As Armadilhas da Paixão, Vega, Lisboa, 2005, ISBN 972-699-761-5, Umberto Eco, A Misteriosa Chama da Rainha Loana, Difel, Miraflores, 2005, ISBN 972-29-0732-8, ou não fosse eu um maníaco dos quadradinhos por a obra conter algumas referências (e ilustrações) sobre o assunto. Ah, ia-me esquecendo do volume 16 dos Spirit Archives, da Will Eisner, publicado pela DC. Era grave!


    Qual foi o último livro que leste?
    De Martin Amis, O Cão Amarelo, Teorema, Lisboa, 2004, ISBN 972-695-596-3, por ser um autor de que gosto e que já traduzi para português, para ver se a tradução estava bem feita (isto é subterfúgio, bem sei), e de facto não estava, se bem que não é fácil traduzi-lo, mesmo nada fácil, mas podia estar bem melhor, não gostei de certas expressões, que não são nada naturais na língua portuguesa, nota-se o esforço mas não chega, enfim, é uma opinião, mas achei a obra menos interessante do que outras que já li do mesmo autor.


    Que livros estás a ler?
    Só faltava, já agora, virem vasculhar-me as prateleiras, os livros que tenho empilhados na mesa de cabeceira, depois abrirem as gavetas para ver se há alguma coisa inconfessável escondida lá dentro, não querem lá ver...
    Como costumo ler mais do que um livro ao mesmo tempo, aproveito aqui para avisar que sou fã de quadradinhos (ainda não tinha dito isto em lado nenhum, pois não?), e que normalmente deito mão a isto e aquilo (para ler ou reler), por isso ando a ler o volume 4 da (re)edição da DC Archives de The Plastic Man, de Jack Cole (estou à espera do volume 16 de Spirit Archives, de Will Eisner, já adquirido a Tales of Wonder pela Internet), vou aí pela página 50, mais coisa menos coisa, de As Armadilhas da Paixão, de Maria José Guerreiro Duarte, Vega, Lisboa, 2005, ISBN 972-699-761-5, e ainda vou lendo uns capítulos da História da Lisboa de Dejanirah Couto, Gótica, Lisboa, 2004, ISBN 972-792-046-2. Entretanto, já depois de ter escrito estas linhas, mas ainda antes de ter colocado o post, chegou o tal volume 16 dos Spirit Archives, de Will Eisner, editado pela DC e adquirido à Tales of Wonder, a que vou deitar a mão já hoje.


    Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
    Em primeiro lugar, se me esquecesse dos óculos bem que podia dispensar os livros, que sem eles nem me valia de nada ter lá a Biblioteca do Congresso à disposição, sem eles é que nada feito, nada de nada, mas se ao menos tivesse essa lembrança podia então exercer alguma selectividade. Para ler e reler sempre, a referida Peregrinatio Ad Loca Infecta, de Jorge de Sena, isto se não pudesse levar a Obra Completa, pelo menos um dos volumes, que ao menos sempre tinha mais leitura, depois A Balada do Mar Salgado do Hugo Pratt, a Poesia do Século XX editada pelo Jorge de Sena, Ficções do Jorge Luís Borges (aqui hesito entre este e o Livro de Areia, se bem que podia também levar o volume 1 das Obras Completas, que ainda por cima tem O Aleph e a História Universal da Infâmia), e ainda me falta um, se fiz bem as contas, que podia ser uma edição das Páginas Amarelas, não é que me servisse de muito (a leitura sempre entretinha), mas quando acabasse o papel higiénico podia dar bastante jeito.


    A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
    A quem podemos chatear com um questionário deste género? Eis uma boa pergunta. Como já não posso reenviá-lo ao senhor que me veio desassossegar o juízo, irei enviá-lo a pessoas que não conheço pessoalmente, excepto no primeiro caso, e assim já não me podem bater, nem vir fazer manifestações aqui à minha porta, nem muito menos furar-me os pneus do carro, que serão: a LolaViola, para se entreter a responder a perguntas parvas e para ver se ao menos mete um post novo, que anda um tudo-nada preguiçosa ultimamente, à Estounua, do Vareta, para poder ao menos rogar-me uma maldição e porque vou mexericar nas suas leituras :-) , além do facto de, tal como a Lola, conhecer pessoalmente o senhor que me enviou isto e a quem encomendo um bom raspanete, para já não falar numa coça das antigas da próxima vez que se encontrarem, e ainda ao Vizinho porque não o conheço, mas é sportinguista como eu e porque, como gosta de motos, bem como o senhor que me enviou esta joça, pode ser que um dia destes se encontrem por aí os dois e cheguem a algum entendimento acerca deste desporto, cujo objectivo eu nunca percebi.

    Posted by: Rezendes / terça-feira, maio 10, 2005
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    segunda-feira, maio 09, 2005

    Dilema


    E

    stou num grande dilema, que agora com a proximidade da feira do livro surge-me a tentação de comprar este e aquele título, uns para guardar para leitura de férias, outros para ir lendo até lá, e começo a ter uma enorme falta de espaço em casa, com pilhas amontoando-se por aqui e por ali, isto a somar ao resto da tralha que para aqui tenho, uma boa parte herdada e outra que advém das minhas manias, a dos quadradinhos e a de coisas de outros tempos, a que não será alheio o hábito de ir guardando tudo e mais alguma coisa, apesar de a casa não ser assim tão grande, que já vai com duas divisões (fora corredores) atulhadas quase até ao tecto, acho mas é que os bichos do papel devem fazer grandes festarolas cá em casa, para já não falar de traças e outros seres vivos de que nem sei os nomes, que também não têm por hábito convidar-me lá para tais arraiais, apesar de lhes ceder o espaço e as vitualhas, mas não me passam cartão, ignoram-me sobranceiramente, que é coisa que não me posso dar ao luxo de fazer quando convido á, bê ou cê para cá jantarem, mas enfim, são educações, e eu nunca vi bicharada mais mal educada do que esta que cá tenho.




            


    A questão que se me coloca é onde pôr as novas aquisições, se em cima dos montes já em equilíbrio precário e onde a empregada mal se atreve a limpar o pó, com medo de aquilo desabar tudo, ou então, pura e simplesmente, deixar de comprar livros ou oferecer os que para aqui tenho e que já li, que é mania de gente como eu guardar livros que já leu e por cujas páginas se calhar nunca mais voltará a passar os olhos, filmes engarrafados em caixinhas de plástico e fitas magnéticas que mais tarde ou mais cedo ficam cheias de bolor e também imprestáveis para novos visionamentos, além de que já me desfiz de um ou outro, mas quando se começa a querer escolher é que o problema se agudiza, mais dia menos dia dou mas é em minimalista e pronto.

    Posted by: Rezendes / segunda-feira, maio 09, 2005
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    domingo, maio 08, 2005

    Omnipresenças




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    Posted by: Rezendes / domingo, maio 08, 2005
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    sexta-feira, maio 06, 2005

    As termotebes


    A

    qui há uns anos atrás apareciam uns anúncios na televisão que faziam alarde às virtudes de umas camisolas interiores que, ao que se dizia, protegiam quem as usasse de todos os frios possíveis e imaginários, as termotebes, já nem sei se era assim que se escrevia, recordo-me de ter comprado um espécime dessa coisa para ver se havia algum fundo de verdade em tais publicidades, e não é que a coisa resultava mesmo, apesar de ficar a deitar faíscas por todos os lados quando a despia, com uma data de estalos à mistura, que a electricidade estática parece que tinha resolvido fazer precisamente ali o congresso das electricidades estáticas, nem sei se aquilo fazia algum mal, nesses tempos não havia cá recomendações da União Europeia acerca das camisolas interiores, nem era preciso usar colete reflector para se poder utilizar a camisola por baixo nem nada, e não tenho memória de terem alguma vez saído artigos na Proteste acerca de tais itens, entrava-se na loja, pagava-se em escudos e lá se levava a peça de vestuário para casa, depois era vesti-la e já estava, hoje em dia já nem sei se existem, não ando propriamente aí pelas lojas a procurá-las, a entrar e sair e a perguntar tem termotebes?, não?, podia dizer-me se ainda há à venda?, não sabe?, não conhece?, obrigado, também não faço disso um passatempo, mas podia fazer, quem sabe, tornar a demanda da termotebe a razão de existir, isto tudo apesar daquilo que para aí se propaga acerca de quem usa camisolas interiores (homem que é homem não usa camisola interior), de estarmos quase, quase no verão e o calor começar a apertar, ia-me já prevenindo para o próximo inverno, era o que era, que se o frio for tanto quanto o calor que vai estar nos próximos meses bem vale a pena ir guardando uma roupita mais quente, por oposição à roupa mais fresca que vai ser necessária nos tempos que se aproximam, para a falta de água que se anuncia pode-se ao menos combatê-la com a ausência de abafos, passa-se a ir quase nu para o trabalho, aí é que era o bom e o bonito, que afinal trabalho não é praia, não é, não, nem piscina nem nada disso, ia tudo parar à esquadra como nos filmes de antigamente, ao menos haviam de dar água aos detidos, que o tempo das sevícias por tudo e por nada já lá vão, isto digo eu, que gosto de contrariar a Amnistia Internacional, o fórum prisões ou lá o que é, que sou boa pessoa e ando mais do que convencido de que nas esquadras só tratam bem as pessoas, oferecem-lhes chá e bolinhos, até lhes dão acesso gratuito à Internet, auscultadores e aparelhos para se ouvir a música que se quiser sem incomodar ninguém, e se calhar ir lá parar no inverno ainda fornecem termotebes de borla. Viva o progresso. Vivam as termotebes.

    Posted by: Rezendes / sexta-feira, maio 06, 2005
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    O meu clube


    Image hosted by Photobucket.comHá dias assim, em que se crê, se descrê, e se volta a acreditar. Mesmo no fim. A segundos do fim. Quando nada mais há que nos leve por caminhos tão íngremes que até nos doem na alma. Mas depois surgem sorrisos que estavam lá no fundo, a espreitar-nos no meio das negaças que escureciam um céu de onde caíam bátegas de chuva apesar de não a sentirmos no corpo.

    Nunca aqui falei de futebol. Mas hoje abro uma excepção. Para o único clube que leva no nome este país, aquele que não traz inscrito um bairro, uma cidade, aquele que trago comigo todos os dias. Sporting Clube de Portugal.

    Posted by: Rezendes / sexta-feira, maio 06, 2005
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    quarta-feira, maio 04, 2005

    A minha caixa de óculos anda por aí...


    D

    ia sim, dia sim, dou por mim a deixar a caixa de óculos enfiada num qualquer canto, que é no que dá já ir avançado nos anos e perder horas a fio a mirar um ecrã de computador, para além de decifrar letra miudinha nos livros, se bem que tenho cá para mim que o que mais mal me fez à vista foi olhar para as caras dos senhores da televisão, e depois passo o tempo todo a perguntar se alguém viu a dita caixa de óculos por aí, e o mais provável é que já se tenha metido a fazer companhia ao Santana ou ao Jardim, que também andam por aí, pelo menos foi o que disseram, que eu ouvi muito bem e ainda não estou surdo mas se calhar não há-de faltar muito, esta minha caixa é mesmo descarada, não querem lá ver que se meteu com más companhias, ainda dou com ela a aparecer na televisão, rodeada de uma data de desconfiados polícias armados até aos dentes no aeroporto e depois ainda me mete numa data de trabalhos, o que me consola é não ter lá escrito o meu nome e morada, senão era tiro e queda, de quem é esta caixa suspeita?, quem é o responsável por esta confusão?, zás, toca a baterem-me à porta, a fazerem buscas cá em casa, nem é bom pensar nisso, que se não fosse preso por uma coisa ia por outra, que ele há-de haver sempre por onde pegar e toda a gente tem rabos de palha, ai não que não tem, o que preciso mesmo é um daqueles dispositivos electrónicos enfiados na dita cuja e quando precisar de a localizar só tenho que carregar no botão para ouvir de onde é que vem o sinal sonoro, mas se vier do aeroporto é que é pior, que eu não passo lá os dias, nem pensar, uma pessoa tem mais que fazer do que andar sempre de cá para lá no aeroporto, e muito menos andar por aí, isso é bom é mesmo para os ociosos que não têm nada de nada que os ocupe ou que os preocupe, eu já ando mas é ralado com o descaramento da minha caixa de óculos, ia lá agora ficar com cabelos brancos por causa dessa gente toda que anda por aí, agora um, dali a nada dois, no dia seguinte já são duzentos ou trezentos, passada uma semana o número já vai nos milhares, aquilo é doença que se pega, a de andar por aí, num ar que lhes deu ficaram de repente sem fazer nada, a olhar para anteontem, e eu para aqui angustiado por não saber da minha caixa de óculos, vai-se a ver e está em cima do frigorífico, o pior é se a meti lá dentro, a esta hora está mas é congelada, se ao menos fosse isso não andava para lá e para cá que nem uma doida, e de malucos já estou vacinado, pelo menos para os tempos mais próximos.

    Posted by: Rezendes / quarta-feira, maio 04, 2005
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    terça-feira, maio 03, 2005

    Versos de pé-quebrado


    N

    o dia em que o Rogério caiu da motorizada e partiu o tornozelo, levaram-no para o hospital na carrinha da feira, deitado em cima de tapetes, de enormes sacos de plástico recheados de camisolas e t-shirts, peúgas e collants, para além de outros atavios, e quando lá chegaram acabaram por mantê-lo em observação durante algum tempo até lhe engessarem a perna, o suficiente para ter ficado babado por uma das enfermeiras, ao ponto de ter pedido à tia que lhe fosse comprar umas flores para oferecer à sua mais recente paixão, já que o irmão se recusara de imediato a fazê-lo, onde é que se viu um gajo andar para aí de flores na mão, isso era coisa de paneleiros e ele era demasiado homem para fazer uma figura dessas; entretanto, para aproveitar o tempo de espera, metera-se a fazer umas quadras dedicadas à tal enfermeira, versos de pé quebrado, chamou-lhes, não porque soubesse o que é que tal expressão significava mas porque, na verdade, estava a fazer versos e tinha mesmo quebrado o pé, além de que já tinha ouvido aquilo nalgum lado e agora vinha mesmo a propósito, que raio, então não eram versos e não tinha o pé quedrado?, pois claro que tinha, mas a coisa não lhe correu lá muito bem, a moça estava comprometida e não lhe achava piada nenhuma, nem aos versos que, além do mais, não estavam lá muito bem feitos, parecendo uma mistura de brejeirice com lamechice pegada, metendo palavras que designavam os órgãos sexuais femininos e masculinos pelo meio, das mais vulgares ainda por cima, a moça ficou ofendida e arranjou maneira de se vingar, arranjando uma seringa de tamanho cavalar e, enfiando-lha nas nádegas, pespegou-lhe com um cocktail de anti-inflamatórios, antibióticos e vitaminas que quase o deixaram ainda mais coxo do que entrara, para além de ter ficado com o rabo mais dorido do que se tivesse apanhado uma tareia do calibre das que a mãe lhe dava quando era pequeno, após o que o devolveu ao ajuntamento familiar na companhia do tal ramo de flores e de alguns gemidos doloridos que se tornaram ainda mais audíveis quando o içaram para cima dos tapetes, dos sacos de camisolas, t-shirts, peúgas e collants, no meio de um chorrilho de novas alcunhas para a enfermeira, decerto novas inspirações para futuros versos, quem sabe?

    Posted by: Rezendes / terça-feira, maio 03, 2005
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    segunda-feira, maio 02, 2005

    A primeira memória


    Há dias de maio assim, um tudo-nada maiores
    do que outros que passaram
    antes deles, antes de saber notícias de ti,
    escritas num papel amarelado que esqueci numa gaveta qualquer.
    E agora já nem me deixas as tuas palavras
    (que não ouço há muito)
    agarradas a uma fita magnética para me lembrar delas
    quando a tristeza for mais forte do que o silêncio
    de entrar em casa e saber que já lá não estás.
    Agora encontro-te por aí, num rosto ao acaso
    no meio da rua, sei que aqueles não são os teus olhos,
    mas que importa,
    se neles eu vejo os teus,
    mesmo que não reparem nos meus.
    Não sei se algum dia te encontrarei
    no meio do mundo todo,
    ou sentada num bar, à noite, a rir do que outros
    te dirão, e então ir-me-ei embora
    para não saber que segredos serão esses
    que agora já não me irás contar.

    Maio, 2002
    Posted by: Rezendes / segunda-feira, maio 02, 2005
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    domingo, maio 01, 2005

    Primeiro de Maio


    A

    cordava-se de manhã cedo, com uma excitação guardada desde o ano anterior, ou pelo menos desde a última vez que tinha havido qualquer razão para que a manhã tivesse sido tão luminosa quanto aquela que agora se apresentava pela frente, uma manhã inteirinha para se gastar da melhor maneira que se podia e sabia, e tudo era como se no ano passado não se tivesse já repetido os gestos do ano anterior e dos outros antes dele, a busca de um travesseiro antigo, daqueles compridos, onde se pintava uma boca com um baton qualquer subtraído às escondidas das gavetas do psiché, o mais vermelho de todos, para que o lugar dos lábios ficasse vivo, enorme, medonho, como competia a uma figura daquelas, depois eram os olhos a carvão, redondos, bem abertos, o mais possível, a fazer lembrar os do Lobo Mau, o nariz disforme, com umas narinas frementes, como se aspirasse o resto do ar do mundo, ou desse a entender que aquele fôlego, aquele em especial, seria o derradeiro antes do ataque final, depois o chapéu, um dos velhos, dos que o pai já não usava e que serviam para brincar aos caubóis, de abas largas, que os mais pequenos faziam atenuar o efeito, perdiam-se na dimensão do rosto largo de devorador de gente, finalmente a camisa, o casaco, as calças, tudo escuro, sombrio, lúgubre, o mais possível, que só assim é que a figura se tornava horrenda e disforme como devia e, pronto o boneco, era agora a vez de sentá-lo numa cadeira em frente a uma janela que desse para a rua, no primeiro andar, que assim ficava a olhar de cima para quem por ali passasse, sobranceiro mas também pronto a mergulhar num ataque repentino, como o fazem as aves de rapina, quando se lançam sobre as presas desatentas e descuidadas, a intenção era meter medo, afastar os maus espíritos, que tivessem cuidado, esses, porque ali estava quem os rechaçaria de imediato, ao mais pequeno aviso de ameaça à tranquilidade do lar, o maio, feito naquele primeiro dia do mês.

    Era assim o primeiro de Maio, nos tempos em que não se podia ir para a rua aos magotes, nem comprar farturas em feiras improvisadas, nem gritar no meio das multidões, quando as conversas eram em voz baixa, quase sussurradas para que não houvesse ouvidos atentos que as levassem dos cafés para os registos das polícias, e muitos anos depois fossem enterradas em arquivos bafientos que andam por aí aos tombos de um lado para o outro até que, depois de cinquenta ou mais anos, algum mais curioso os vá ler quando dessa memória nada mais restar do que uns cadáveres nos cemitérios que já não fazem sombra a ninguém porque simplesmente já todos os esqueceram e aos outros que morreram porque alguém os matou, e com tais segredos se faz a história que mais tarde já nem aparece nos livros, porque aqueles que mandam hão-de achar que já não vale a pena que os livros contem coisas como essas.

    Posted by: Rezendes / domingo, maio 01, 2005
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