Há dias de maio assim, um tudo-nada maiores
do que outros que passaram
antes deles, antes de saber notícias de ti,
escritas num papel amarelado que esqueci numa gaveta qualquer.
E agora já nem me deixas as tuas palavras
(que não ouço há muito)
agarradas a uma fita magnética para me lembrar delas
quando a tristeza for mais forte do que o silêncio
de entrar em casa e saber que já lá não estás.
Agora encontro-te por aí, num rosto ao acaso
no meio da rua, sei que aqueles não são os teus olhos,
mas que importa,
se neles eu vejo os teus,
mesmo que não reparem nos meus.
Não sei se algum dia te encontrarei
no meio do mundo todo,
ou sentada num bar, à noite, a rir do que outros
te dirão, e então ir-me-ei embora
para não saber que segredos serão esses
que agora já não me irás contar.
Maio, 2002