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  • terça-feira, maio 30, 2006

    Curas (ou outras soluções) de tempos medievais



    PARA ESTANCAR SANGRIAS

    o Santo Cristo nasceu em Belém.
    E veio depois pra Jerusalém.
    Ali foi baptizado por João
    No rio Jordão.
    Então parou do Jordão a corrente
    Logo de repente.
    Assim pára tu, sangria, portanto,
    Pelo amor do Cristo santo.
    Pára por precisão,
    Como fez o rio Jordão,
    Quando o bom São João
    Baptizou o Cristo santo.
    Faz tu, sangria, outro tanto,
    Por amor do Cristo santo.


    PARA CONJURAR UM ENXAME

    Céus, saiu a abelha! - Não fujas, meu bichinho,
    Volta a asa sã na paz de Deus.
    Pousa, pousa, abelha: manda-te Santa Maria,
    Não te despeças: não voes pra o bosque,
    Não te me escapes, nem me fujas,
    Pousa quietinha, faz como Deus quer.

    Tradução do alemão de Paulo Quintela
    Posted by: Rezendes / terça-feira, maio 30, 2006
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    sexta-feira, maio 26, 2006

    Um Verão (que se prevê) quente

    D

    os dias de um verão há 31 anos atrás, a que chamaram verão quente, recordo sobretudo alguns meses que passei numa trupe de gente nova mais ou menos subsidiada e comprometida com Michel Giacometti, a fazer recolha etnográfica por esse país fora, com maiores preocupações pela diversão do que pelo trabalho em si mesmo, mas em que fiz amigos que duraram ao longo dos anos, um dos quais já não está entre nós, e da minha maneira de ser mais ou menos anarca em relação aos acontecimentos que se iam desenrolando nessa época conturbada, em que assisti a alguns assaltos a sedes de partidos ali pela zona centro do país, de longe, claro, por via das dúvidas, sendo que as minhas lembranças se centram muito mais nos tempos em que percorria a avenida de Roma a gritar a altos berros Viva o processo revolucionário... em curso, ou Edição integral... da Cartilha Maternal e outras brilhantes ideias no género, e ainda de andar à boleia a caminho de casa de amigos na zona de Leiria com um enorme facalhão enviado numa das botas, não fosse a coisa dar para o torto, enquanto os condutores simpáticos que paravam para nos levar (ainda havia gente que fazia isso, nesses tempos) falavam do perigo que era dar boleia nos dias que corriam, porque havia gente que andava com facas e não eram raros os casos de assaltos, que não era a minha ideia, como era evidente, mas tão-só precaver-me caso houvesse algum tipo de problemas, se bem que não sei o que faria se os houvesse, que nunca me passaria pela cabeça ter que puxar da faca fosse para quem fosse, se bem que uma vez, por causa de brincadeiras, houve um desses amigos que foi parar ao hospital de Leiria para levar uns quantos pontos numa das mãos por causa de uma brincadeira estúpida, que é o tipo de práticas que uma pessoa tem nessas idades em que não se pensa lá muito bem nas consequências, a que aliás não era estranho, uma vez que já tinha andado metido em duelos de espingardas de chumbinhos no quintal da casa onde morava nos Açores, havendo até um indivíduo que ficou quase sem ver de uma vista por ter levado um tiro na lente dos óculos (não fui eu, confesso), e depois no liceu éramos conhecidos como os gringos da Ribeira Grande, enfim, disparates, que já os havia dantes e há-de continuar a haver sempre, o que é que se pode fazer, é comer e andar, se bem que mais perigoso é andarem agora aos tiros com armas de guerra, que foi coisa que só experimentei na tropa e que me chegou e sobrou.

    Posted by: Rezendes / sexta-feira, maio 26, 2006
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    domingo, maio 21, 2006

    Os miasmas

    C

    ada vez mais me parece que este país anda infectado por todos os lados de qualquer doença para a qual não há maneira de se encontrar nem diagnóstico nem cura, nem sequer quem o trate como ele precisa, e já andam por aí a dizer que o que isto precisava era de outro Salazar, como se não chegasse um que por cá andou a fazer mais mal que bem, apesar de haver quem ache precisamente o contrário, mas enfim, como em democracia, ao que dizem, todas as opiniões são aceitáveis, vai-se engolindo umas ou outras à custa de algumas azias, talvez haja receituários que as atenuem um bocadinho, eu não conheço nenhum, mas quem sabe, agora que toda a gente parece pensar que o dinheiro é tudo na vida, principalmente aqueles que mandam nos outros todos, ou que pelo menos têm o convencimento, lá isso ninguém lhes tira, que não é nada fácil subtrair a presunção a quem pensa que a tem toda, as economias e as finanças enveredaram pelo absolutismo, pode ser que lá para as terras das franças lhes façam alguma espera de foice na mão como noutros tempos, que por cá é que não há jeito de alguma vez mudar seja o que for, a não ser a pouca boa educação que havia, que nestes tempos é já quase nenhuma, mas depois há quem ache que assim é que está bem, já nem é preciso maneiras, nem cultura, nem sequer saber ler e escrever, desde que se tenha dinheiro no banco ou escondido num lado qualquer, porventura nos tais ofechores, dão-se jornais à borla para dar a impressão de que toda a gente anda informada, que sabe de tudo e mais alguma coisa, a seguir vem a bola e pronto, anda tudo satisfeito da vida, não acontece mais nada, vai-se governando pela calada, que também não vale a pena que abram a boca, que de muitas delas só saem é asneiras, fica tudo na mesma ou pior ainda e acaba-se a história, que é o mesmo que dizer acaba-se o país, já que a sabedoria, essa, já se foi há que eras.

    Posted by: Rezendes / domingo, maio 21, 2006
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    quinta-feira, maio 18, 2006

    Ufa!

    N

    ão tenho escrito coisa que preste, o que não quer dizer que antes escrevesse alguma coisa de jeito, era tão-só uma maneira de dizer, quem sabe, até, de me tirar da modorra que tenho sentido nestes últimos dias, um tem-te-não-caias, uma mornice sem ânimo, uma falta de genica que me faça pegar no teclado e fazer com que saiam palavras com sentido, pelo menos para mim, o que nem é mau de todo, sempre sabe mais ou menos bem e alivia, mas sinto que se me vai esvaindo a vontade, que uma vez por outra nem é já muita, o apego às letras, ao trabalho, seja lá o que for que me faça sentir-me útil para qualquer coisa que não seja andar armado em custódio, que destes só sei de um jogador da bola de quem se ouve falar uma vez por outra e, no feminino, da tal de Belém, coisa de tempos remotos e de dúvidas vicentinas, é no que dá quem andou para aí a pensar que fazer cruzinhas nos papelinhos do Post Scriptum é que valia a pena, no post já ando eu, que é isto aqui, pelo menos para os anglo-saxónicos, se bem que me parece que o estrangeirismo pegou, à falta de melhor, como é habitual, agora o scriptum é que já fia mais fino, necessita de achas que alimentem o fogacho, ou ao menos uma pequena labareda, nem que seja uma faísca, já uma pessoa se sente mais contente, quiçá aliviada, ufa.

    Posted by: Rezendes / quinta-feira, maio 18, 2006
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    segunda-feira, maio 15, 2006

    À Maria do Carmo, num dia especial



    Vejo-te deitada ao pé de mim
    e sei que este meu corpo é também teu.
    Temos ambos os mesmos gestos,
    que guardamos só para nós,
    amar-te-ei eu assim todos os dias?
    Haverá em mim um só segundo
    em que me esqueça de me lembrar de ti?
    Às vezes fico aqui deitado
    a olhar para os segredos da noite,
    mas sobram palavras
    onde me faltam as tuas mãos,
    que todos os dias levo comigo
    bem fechadas nas minhas.
    Posted by: Rezendes / segunda-feira, maio 15, 2006
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    terça-feira, maio 09, 2006

    Os princípios científicos

    P

    ara os que crêem que a ciência existe única e soberana sobre tudo o resto, aqui ficam alguns bons exemplos do que era a ciência farmacêutica há cerca de 300 anos atrás, dos conceitos que então a norteavam e das possíveis consequências físicas para os pacientes. Será que daqui a três séculos também apreciarão da mesma maneira as nossas actuais incontestáveis práticas científicas?

    Electuário De Satirião

    Tomem-se 2 onças de Raiz de Satirião cristalizado; de Raiz de Eríngio cristalizada, 1 onça; de Maçã conservada em açúcar, meia onça; de suco de Quermes em pó e de Álcool de Salva, 2 onças de cada; 16 grãos de Pimenta-Longa moída. Misture-se.

    É um afrodisíaco e, de certo modo, restabelece pessoas emaciadas e tuberculosas. Tomar doses de 2 ou 3 dracmas, de manhã e à noite, com um copo de Vinho Velho de Málaga ou com Vinho Abafado de Espanha.



    Água De Fezes De Cavalo

    Tomem-se de Tília, de Agrião e de Língua-Cervina, 3 mãos-cheias de cada; 3 Cascas de Laranja sumarentas; de Noz-de-Moscada, 3 dracmas; de suculentas Fezes de Cavalo, 3 libras; de Soro de Leite Coalhado, 9 pintos; de Sumo de Escabiosa, Dente-de-Leão e de Água de Hissopo, 1 pinto de cada. Retire-se lentamente o líquido da mistura e destile-se a frio, num alambique, durante 3 dias (necessários para apressar a operação).

    Pode usar-se em refrescos. Bom para a pleuresia, para o escorbuto e para as dores do vago.



    Um Epítema Reconfortante

    Tomem-se 6 dracmas de Água da Rainha da Hungria; de Álcool Destilado de Lavanda e de Açafrão, 2 dracmas de cada; de Bálsamo Apoplético, 1 escrópulo; de óleo de Cravinhos, 10 gotas. Misture-se.

    É uma óptima receita contra desfalecimentos e palpitações do coração. Mas não se recomenda a mulheres histéricas, dado o seu perfume, que muito poucas podem suportar.



    Um Electuário De Mostarda

    Tome-se meia onça de Mostarda em pó; de Conserva de Arruda, 2 onças; de Xarope de Lavanda, 1 onça e meia; de Óleo de Alecrim e de Lavanda, 4 gotas de cada. Misture-se.

    Penetra nos nervos, abre todas as obstruções, e dá um novo ânimo aos espíritos embotados.



    Uma Cataplasma De Arenques

    Tomem-se 2 onças de Raiz de Briónia, recentemente apanhada (ou se estiver seca reduza-se a pó); de Sabão Negro, 3 onças; de Arenques de conserva (ou de Anchovas), 4 onças; de Sal, 1 onça e meia. Misture-se.

    Destina-se a ser posto nas solas dos pés e atado com ligaduras. Mude-se de 12 em 12 horas. É usado com sucesso para as matérias febris que assaltam a cabeça e oprimem o espírito. Pode causar torpor ou adormecimento.



    Água Peitoral De Caracóis

    Tomem-se três libras de caracóis esmagados com as cascas; de Migalhas de Pão, recentemente cozido, 12 onças; de Noz-de-Moscada, 6 dracmas; de Hera moída, 6 mãos-cheias; de Soro de Leite Coalhado, 3 quartos de galão. Destile-se a frio para não queimar.

    Esta água humidifica, dilui, alivia, alimenta e conforta. Logo é muito recomendada para a palidez provocada pela tísica.



    Um Refresco Tonificante Temperado Com Pérolas

    Tomem-se de Águas de Borragem e de Azedas dos Bosques, 4 onças de cada; de Rosas de Damasco e de Água de Canela de Cevada, 2 onças de cada; de Pérolas Preparadas, 1 dracma; de Açúcar Branco em pedra, 3 dracmas; de Óleo de Noz-de-moscada, 1 gota. Misture-se.

    Traz um enorme e agradável alívio àqueles que são incomodados pelos ataques e ânsias provocadas pela febre, pois não agita nem rarifica o sangue, nem promove sequer um aumento da sua efervescência. Contudo, socorre o ventrículo, trabalhando e quase suprimindo a opressão de indesejadas feculências, ajudando os humores adultos que flúem do sangue, esforçando-se para provocar despumação e expelindo a fermentação preternatural: todas estas coisas consegue operar, ao envolver o estômago com uma agradável sensação e sabor, de onde, ao reanimar os espíritos (quer os interiores quer os extravasantes) através de toda a máquina física, redobra num instante o seu vigor, dando-lhe assim todo o apoio necessário.



    Uma Pequena Compressa Contra A Histeria

    Tome-se meio dracma de Assa-Fétida; de Rícino e de Cânfora, 1 escrópulo de cada. Misture-se e ate-se num simples pano ou pedaço de seda.

    Se o segurarmos várias vezes contra o nariz, ajuda a eliminar os vapores e ataques, pois acalma os humores enraivecidos, reprimindo-os nas suas loucas excursões e exorbitâncias. Põe-nos assim na ordem, impedindo que os mesmos se transformem em tumultos ou em explosões convulsivas.



    Um Pó Esplâncnico

    Tome-se 1 escrópulo de casca de Freixo; de Ruibarbo, 5 grãos; de Nardo Indiano e de Açafrão, 2 grãos de cada; de Pimenta-Longa, 1 grão. Reduza-se tudo a pó ao qual se poderá juntar Limalha de Ferro, pro re nata.

    Remove as obstruções das vísceras, corrige os fermentos depravados, reprime as flatulências espasmódicas, e abre e satisfaz o apetite, aliviando a dor e a tensão causada pela hipocondria.



    Uma Cataplasma De Teias De Aranha

    Tomem-se 2 onças de Terebintina Veneziana; de Sumo-de-Tanchagem, 1 onça e meia; 3 Figos; de Raspa de Casca de Laranja, 2 dracmas; de uma Grande Pílula, chamada Bolus, 1 dracma e meio; de Fuligem, 1 onça; de Esterco de Pombo, 1 onça e meia; 6 grandes teias de Aranha; de Sabão Negro, 4 onças. Vinagre suficiente para ligar os ingredientes.

    Para acalmar os tremores de uma sezão, amarre as teias preparadas aos pulsos, de maneira que fiquem bem contra as veias, duas horas antes de um possível ataque.



    Receitas extraídas da Pharmacopeia Extemporanea, compilada por Thomas Fuller, em 1710, citação (espero que me perdoem os direitos de autor pela publicidade aqui feita à obra) da obra de Michelle Lovric, O Remédio, Saída de Emergência, Parede, 2005.

    Posted by: Rezendes / terça-feira, maio 09, 2006
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    domingo, maio 07, 2006

    Mais uma história triste

    A

    ndreia acabou de matar o filho recém-nascido, vai presa entre dois polícias que a arrancaram da única casa que tinha como sua, nem sabe bem o que fez, sabe tanto ou tão pouco quanto os seus treze anos, uma criança ainda mesmo que o corpo diga que não, que afinal já é mulher, que foi violada, que foi mãe, assassina, tudo no curto espaço de tempo que é um único dia, demasiado curto para quem ainda nem sabe bem o que é viver, o que é ser feliz, o que é ter uma família, o que é o mundo, o que são as pessoas, quem é afinal aquele pai que a forçou na cama onde sonhava ainda brinquedos de criança, onde esses segredos que ele lhe pedia para guardar se tornavam cada vez mais pesados, aos poucos e poucos deixara de saber chorar, sorrir, cantar, a voz foi-se-lhe apagando aos poucos e poucos como se um mundo de silêncios de súbito a envolvesse nos seus braços, nem sequer sabe o que isso é, receber um gesto de ternura, aninhar-se no peito de alguém que a proteja dos outros, conhece tão-só um sono irrequieto, uma expectativa de dor, e agora vai deixar de saber tudo o resto, restar-lhe-ão apenas sombras de uma alegria que nunca sentiu.

    Posted by: Rezendes / domingo, maio 07, 2006
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    quarta-feira, maio 03, 2006

    Mais uma história disparatada

    O

    Tampinhas morava no sexto andar, de quando em vez lá se aventurava até ao quinto, mais raramente ao quarto, para baixo disso nem pensar, que era arriscar demais, tinha uma memória algo difusa da infância, mas a sua predilecção eram as tampas, daí a alcunha, sempre que apanhava uma à mão de semear era um vê-se-te-avias, tomava logo sumiço, levava-as à janela e depois era fazer pontaria cá para baixo, se alguém viesse a passar pois paciência, levava com a tampa na tola, como eram de plástico não deixavam mossa, porque não se aventurava com as metálicas, de frascos de compota, para ele não contavam, não eram tampas, eram outra coisa qualquer que não se enquadrava na sua didascália, um indivíduo que se preze tem que ter uma didascália, é o que dá razão à existência, fora disso nada feito, é o caos, a desordem, a desorientação, que era o que lhe acontecia caso se atrevesse a descer mais degraus do que os que conhecia para voltar ao seu poiso habitual, regras são regras, preceitos são preceitos, mesmo os que lhe inculcaram desde pequeno, quando lhe davam um leve açoite no rabo até ter interiorizado o que esperavam de si, quem se habitua habituado está, é mesmo assim que o mundo funciona, e quem o conhecesse já sabia de antemão como é que era, em passando debaixo da janela era tampa na tola com certeza, daí que houvesse quem olhasse para o alto, a ver se a costa estava livre, que é como quem diz não vinha por ali abaixo uma tampinha de plástico, já se viu que não era por causa da mossa que pudesse fazer, mas as pessoas não gostam de ser surpreendidas, assustam-se, e uma pessoa assustada torna-se perigosa, depois vêm as represálias, as queixas, um trinta e um por uma coisinha de nada, aqui d'el-rei que me ia tirando um olho à menina, ou ao menino, ou à sogra, tornava-se caso de polícia, de queixa ao delegado de saúde, um ponto na ordem de trabalhos da reunião de condomínio, sabe-se lá onde é que as coisas podem ir parar por causa de uma mínima tampa de plástico, já houve quem fizesse grandes asneiras por muito menos, por isso já andavam quase todos de boné ou de chapéu ou fosse lá o que fosse, a moda tinha pegado, depois já nem tiravam os bonés, nem sequer dentro dos automóveis, nos restaurantes, os outros julgavam que era por causa da parolice dos filmes americanos, quais fitas nem meias fitas, era por causa das tampas que caíam do sexto andar, um dia lá em casa decidiram fazer uma colecta de tampas para ver no que dava, o que ninguém estranhou, estava na moda juntar tampas porque tinha havido alguém que um dia se lembrara de pôr toda a gente a juntar tampas, e quando as largaram lá em casa foi um festival de tampas pela janela abaixo, até parecia granizo às cores, lá iam tombando uma após outra e nesse dia só quem não sabia de nada é que foi apanhado, os que habitualmente passavam por ali já sabia do que é que a casa gastava e estavam prevenidos, agora os estranhos de passagem é que ficaram de boca à banda, estava a chover tampas, era um disparate completo, tal como esta história, mas o certo é que o danado do gato ficou mesmo com a alcunha.

    Posted by: Rezendes / quarta-feira, maio 03, 2006
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