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ada vez mais me parece que este país anda infectado por todos os lados de qualquer doença para a qual não há maneira de se encontrar nem diagnóstico nem cura, nem sequer quem o trate como ele precisa, e já andam por aí a dizer que o que isto precisava era de outro Salazar, como se não chegasse um que por cá andou a fazer mais mal que bem, apesar de haver quem ache precisamente o contrário, mas enfim, como em democracia, ao que dizem, todas as opiniões são aceitáveis, vai-se engolindo umas ou outras à custa de algumas azias, talvez haja receituários que as atenuem um bocadinho, eu não conheço nenhum, mas quem sabe, agora que toda a gente parece pensar que o dinheiro é tudo na vida, principalmente aqueles que mandam nos outros todos, ou que pelo menos têm o convencimento, lá isso ninguém lhes tira, que não é nada fácil subtrair a presunção a quem pensa que a tem toda, as economias e as finanças enveredaram pelo absolutismo, pode ser que lá para as terras das franças lhes façam alguma espera de foice na mão como noutros tempos, que por cá é que não há jeito de alguma vez mudar seja o que for, a não ser a pouca boa educação que havia, que nestes tempos é já quase nenhuma, mas depois há quem ache que assim é que está bem, já nem é preciso maneiras, nem cultura, nem sequer saber ler e escrever, desde que se tenha dinheiro no banco ou escondido num lado qualquer, porventura nos tais ofechores, dão-se jornais à borla para dar a impressão de que toda a gente anda informada, que sabe de tudo e mais alguma coisa, a seguir vem a bola e pronto, anda tudo satisfeito da vida, não acontece mais nada, vai-se governando pela calada, que também não vale a pena que abram a boca, que de muitas delas só saem é asneiras, fica tudo na mesma ou pior ainda e acaba-se a história, que é o mesmo que dizer acaba-se o país, já que a sabedoria, essa, já se foi há que eras.