A
ndreia acabou de matar o filho recém-nascido, vai presa entre dois polícias que a arrancaram da única casa que tinha como sua, nem sabe bem o que fez, sabe tanto ou tão pouco quanto os seus treze anos, uma criança ainda mesmo que o corpo diga que não, que afinal já é mulher, que foi violada, que foi mãe, assassina, tudo no curto espaço de tempo que é um único dia, demasiado curto para quem ainda nem sabe bem o que é viver, o que é ser feliz, o que é ter uma família, o que é o mundo, o que são as pessoas, quem é afinal aquele pai que a forçou na cama onde sonhava ainda brinquedos de criança, onde esses segredos que ele lhe pedia para guardar se tornavam cada vez mais pesados, aos poucos e poucos deixara de saber chorar, sorrir, cantar, a voz foi-se-lhe apagando aos poucos e poucos como se um mundo de silêncios de súbito a envolvesse nos seus braços, nem sequer sabe o que isso é, receber um gesto de ternura, aninhar-se no peito de alguém que a proteja dos outros, conhece tão-só um sono irrequieto, uma expectativa de dor, e agora vai deixar de saber tudo o resto, restar-lhe-ão apenas sombras de uma alegria que nunca sentiu.