O
intrincado problema que representa a recente decisão, pelos responsáveis pelo Ministério da Educação, de suspender a aplicação generalizada da Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário (vulgo TLEBS) nos manuais escolares destinados ao oitavo ano de escolaridade é bem mais uma demonstração da confusão em que vêm colocando o ensino nos últimos tempos, com decisões pouco pensadas, e que em nada contribuem para resolver os problemas que vão surgindo nas escolas, basta tão pouco perceber que os alunos que frequentam o sétimo ano em 2006/2007, utilizando manuais em que esta nova terminologia já é aplicada, terão, no próximo ano lectivo, se transitarem, que lidar com os antigos manuais, em que a terminologia utilizada é a que existia em data anterior a esta generalização, ou seja, se no 7º ano substituíram o termo oração ou substantivo por frase e nome, respectivamente, que pode ser encontrada nos seus manuais e para o que foram alertados pelos professores de Língua Portuguesa, no 8º ano, em 2007/2008, regressarão aos termos que tinham aprendido a substituir, apenas por uma decisão política que, à partida, nunca deveria ter sido tomada anteriormente, já que se considerava que a TLEBS continha diversas imprecisões, necessitando de ser aplicada após um período experimental em que se procedesse a uma avaliação rigorosa acerca dos méritos de uma alteração que muitos linguistas consideram indispensável face à referida confusão que a anterior terminologia, a Nomenclatura Gramatical Portuguesa, datada de 1967, provocava no ensino e aprendizagem da língua, para já nem falar na sua utilização, o que deve querer dizer que todos os que aprenderam português desde essa data até ao presente o fizeram com enormes lacunas e deficiências, será certamente por isso que toda a literatura entretanto produzida o foi por gente mal formada, como será por exemplo o meu caso e do presente texto, para já nem falar de todos os outros anteriormente aqui publicados, ou poderá ser o de tanta gente que publicou em todos os outros blogues, nem jornais, revistas, nos livros, nos manuais, e até, pasme-se, nos textos da própria TLEBS, porque na cabeça de todos nós o que podemos encontrar é nem mais nem menos do que uma tremenda falta de rigor na aplicação prática dos conceitos gramaticais, para já nem falar no facto de haver muitos mais milhões de falantes e utilizadores da língua portuguesa em todos os países que a têm como língua oficial, que até ao surgimento da TLEBS mais não terão feito do que asneiras atrás de asneiras sempre que construíram uma frase, que escreveram uma palavra ou utilizaram um sinal de pontuação, que se atreveram a pensar em orações ou em substantivos. Nem mais.
terça-feira, janeiro 16, 2007
Irritações
A
ndo com uma verdadeira inclinação para não votar no referendo, isto apesar de concordar com a alteração da lei da interrupção voluntária da gravidez (IVG, para quem gosta de acrónimos), mas prevejo já o aproveitamento pelo partido da maioria de uma provável vitória do SIM, que andam já por aí uns senhores, daqueles que gostam de opinar sobre tudo e mais alguma coisa, a tecer considerações acerca de uma vitória ou derrota partidária, que é no que isto se vai tornar, basta esperar para ver, porque esta politiquice à portuguesa acaba por transformar assuntos sérios e que dizem respeito à cidadania em geral em assuntos de política partidária, porque a situação em que nos encontramos provém de uma manifesta falta de coragem para fazer aprovar uma lei num parlamento onde uma maioria faz passar o que muito bem quer e entende, e reprovar minudências como a legislação anti-corrupção, que é coisa em que não interessa nada mexer, pois está visto que assim é que as coisas estão bem, afinal o que é suficiente é mudar umas coisitas aqui e acolá para dar a aparência de que se mudou alguma coisa, quando ficou afinal tudo como dantes, é no que dá fazer birras a propósito de tudo e de nada.
O que me irrita esta gente!
segunda-feira, janeiro 01, 2007
Um Bom Ano, seja ele qual for
N
uma obra recentemente publicada, Robert Silverberg ficciona acerca da possibilidade de nos encontrarmos, não no ano de 2007, mas sim em 2760 A.U.C. (Ab Urbs Condita, a partir da fundação da cidade, como os romanos contavam o tempo), devido a circunstâncias históricas que se teriam alterado ao longo dos séculos.
Em primeiro lugar, os judeus não teriam conseguido abandonar o Egipto, não tendo, por isso, ocorrido o nascimento de Jesus na chamada Terra Prometida, não existindo o cristianismo; por outro lado, o Império Romano nunca se teria desfeito por acção das invasões bárbaras, durando até aos nossos dias. A religião dominante continuaria a ser dedicada sobretudo ao culto de Júpiter Imperator, e a estabilidade política, com altos e baixos durante os milénios da sua existência, teria permitido que, por exemplo, tivessem sido as legiões romanas as primeiras a desembarcar na Nova Roma (a América).
Para além das suposições algo mirabolantes, como a invenção de foguetões para viagens interplanetárias pelos judeus egípcios, numa tentativa de encontrar a terra prometida noutros planetas, para além das já aqui atrás enunciadas, o facto é que a contagem do tempo é apenas uma convenção, como tantas outras que regem cada momento que vivemos. Se assim não fosse, a globalização que hoje nos comanda a existência só muito dificilmente conseguiria persistir. O início do ano ocorreria no equinócio da Primavera, no mês de Março, e não estaríamos hoje de ressaca com os espumantes e as festas e os doces e o resto com que nos empanturrámos na noite passada. Se bem que ainda hoje não nos entendemos por completo: se para os judeus estamos no ano 5758, para os muçulmanos encontramo-nos em 1428, e para os chineses em 4705.
Quer de uma ou de outra maneira, certo, certo, é que, se me pedissem que escrevesse a data de hoje, o que lá poria era 1 de Janeiro de 2007. Raios partam as convenções.
Mas o que é facto é que uma pessoa não faz outra coisa nesta vida senão fazer concessões, por isso lá vai: um Bom Ano.
