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uma obra recentemente publicada, Robert Silverberg ficciona acerca da possibilidade de nos encontrarmos, não no ano de 2007, mas sim em 2760 A.U.C. (Ab Urbs Condita, a partir da fundação da cidade, como os romanos contavam o tempo), devido a circunstâncias históricas que se teriam alterado ao longo dos séculos.
Em primeiro lugar, os judeus não teriam conseguido abandonar o Egipto, não tendo, por isso, ocorrido o nascimento de Jesus na chamada Terra Prometida, não existindo o cristianismo; por outro lado, o Império Romano nunca se teria desfeito por acção das invasões bárbaras, durando até aos nossos dias. A religião dominante continuaria a ser dedicada sobretudo ao culto de Júpiter Imperator, e a estabilidade política, com altos e baixos durante os milénios da sua existência, teria permitido que, por exemplo, tivessem sido as legiões romanas as primeiras a desembarcar na Nova Roma (a América).
Para além das suposições algo mirabolantes, como a invenção de foguetões para viagens interplanetárias pelos judeus egípcios, numa tentativa de encontrar a terra prometida noutros planetas, para além das já aqui atrás enunciadas, o facto é que a contagem do tempo é apenas uma convenção, como tantas outras que regem cada momento que vivemos. Se assim não fosse, a globalização que hoje nos comanda a existência só muito dificilmente conseguiria persistir. O início do ano ocorreria no equinócio da Primavera, no mês de Março, e não estaríamos hoje de ressaca com os espumantes e as festas e os doces e o resto com que nos empanturrámos na noite passada. Se bem que ainda hoje não nos entendemos por completo: se para os judeus estamos no ano 5758, para os muçulmanos encontramo-nos em 1428, e para os chineses em 4705.
Quer de uma ou de outra maneira, certo, certo, é que, se me pedissem que escrevesse a data de hoje, o que lá poria era 1 de Janeiro de 2007. Raios partam as convenções.
Mas o que é facto é que uma pessoa não faz outra coisa nesta vida senão fazer concessões, por isso lá vai: um Bom Ano.