omo qualquer outra pessoa, sou influenciado pela pressão dos tempos que correm, aceitando este ou aquele aspecto mais ou menos inovador, mais ou menos interessante, mais ou menos cativante, sendo levado a aderir, nem sempre de vontade, a este ou aquele estilo de roupa, de sapatos, de música, de cinema, muito embora me contenha, ou pelo menos tente fazê-lo, face à insistência com que a publicidade nos entra pelos olhos ou pelos ouvidos a todas as horas e em todos os lugares, se bem que pouca publicidade veja na televisão ou ouça na rádio, escapando-me sempre que posso a tais bombardeamentos, sendo no entanto mais difícil fugir aos cartazes e anúncios espalhados um pouco por todo o lado, vindo isto a propósito de influências que nos foram chegando de todo o lado sobre pedagogias e afins, que mais tarde acabaram por revelar-se ineficazes nos mesmos países de onde originaram, acabando por voltar tudo à estaca zero, que o mesmo é dizer que se chegou à conclusão que comprovadamente não funcionavam, tal como estavam formuladas, se bem que neste país, onde as inovações sempre chegaram com anos de atraso, se continue a considerar de enorme utilidade as práticas já em desuso e abandonadas por esse mundo fora, facto que demora a evidenciar-se no deslumbramento em que geralmente nos vemos mergulhados quando contactamos com tais teorias, como durante séculos nos aconteceu com a literatura e a arte, nunca se sabendo bem ao certo se esta nossa tendência para o epigonismo é algo de endógeno ou um resultado da nossa completa cegueira para com o simples bom senso, de pouco nos servindo um ou outro mais iluminado que garanta, a pés juntos, que mais vale sermos como somos, valendo o que valemos, do que estarmos para aqui a servir de caixote do lixo dos países tidos por mais avançados, experimentando o que a experiência já deu por falho, plagiando o que inconsequente acabou por revelar-se, tomando por assisado o que nunca deixou de ser ridículo, em suma, asneirando «à grande e à francesa», como se costumava dizer e agora pouco se diz, que nisto de dislates sempre gostámos de exagerar, por isso não é de admirar que se espere o que é utópico, quando nem sequer somos capazes de reconhecer os nossos próprios defeitos e toda a gente seja especialista em tudo e mais alguma coisa, que é o mesmo que dizer em nada, porque quem muito afirma saber acerca de tudo acaba por mostrar saber muito pouco acerca de quase nada, muito embora se caminhe assim alegremente em direcção a qualquer futuro que se pretende risonho e rosado, como o são a cor que por agora aí domina e o estado de espírito de anedotário néscio que domina as opiniões, os programas, as revistas e o mais que se lê, vê e ouve por aí, que além do mais parece estar na moda.
D
e quando em vez acontece, uma pessoa pensa que vai por um lado e dá por si de súbito a enveredar por outro caminho, e isto não é por distracção nem por azelhice, é assim mesmo, faz-se confiança no instinto de orientação ou na sinalização que se vê plantada por aí e, como se dizia, dá-se com os burrinhos na água, que é o mesmo que fazer asneira, indo parar a um lado qualquer que nunca viu nos dias da sua vida, nem muito menos nas dos outros, quem lá mora pode saber por onde anda, mas quem não sabe é como quem não vê e está o caldo entornado, anda-se para ali às voltas e voltas, acabando-se por ir parar ao mesmo lugar, tão desconhecido como era dantes, para dizer a verdade um pouco menos, uma vez que já o tínhamos visto há pouco, há quem desista e fique por ali, mas outros, mais pertinazes, investem furiosamente por ínvios caminhos na secreta esperança de finalmente descobrir o almejado rumo, é no que dá não se investir nestas coisas dos gepeesses, e ignorar com sobranceria os tais planos tecnológicos, anda-se à roda como o pião, mais valia andar a pé que sempre se podia ir deixando umas migalhas, que são coisas que se aprende na infância e que nunca se sabe se podem vir a ser úteis num dado momento da nossa vida, nos dias que correm já não se pode atirar seja o que for pela janela do carro senão apanha-se uma multa, o que é que o senhor condutor ia a atirar pela janela do carro?, eu, senhor agente, sim, o senhor, pois eram migalhas, senhor agente, para ver se dava com o regresso no caso de me perder, o senhor condutor deve estar a brincar comigo, eu não, senhor agente, então o senhor condutor não vê ali os sinais que lhe indicam as direcções, pois vi, senhor agente, e orientei-me por eles e vim aqui parar outra vez, é porque o senhor condutor não viu com atenção, vi, vi, senhor agente, se calhar ia a falar ao telemóvel, eu não, senhor agente, nunca faço isso quando vou a conduzir, e, se quer que lhe diga, nem sequer parado o utilizo muito, pois devia utilizar mais, porque podia telefonar a alguém para lhe ensinar as direcções, se calhar tem razão, senhor agente, mas como as pessoas que conheço não são destas bandas também não ia ajudar muito, então o que vem o senhor aqui fazer?, queria ir visitar uma exposição que há para estes lados, mas agora penso que já nem vale a pena porque com o tempo que levei às voltas creio que já fechou, pois devia ter vindo mais cedo ou estudado o percurso antes de se meter à estrada, eu bem tentei, senhor agente, mas não me serviu de muito, que isto parece um labirinto e se uma pessoa vai devagar aparece sempre alguém atrás de nós de mão colada na buzina, e com razão, que não se pode andar a entupir o trânsito, eis um bonito exemplo da solicitude dos agentes da autoridade, não é por mal, mas quem devia levar uma multa é quem andou a deixar que surgissem estes prédios por todo o lado e estas ruas que parecem não levar a lado nenhum a não ser para quem por lá anda dia após dia, e o mesmo se podia dizer para outros ramos da actividade humana, mas isso levar-me-ia por outros caminhos e por outros desvios.
terça-feira, novembro 07, 2006
TLEBS
P
arece nome de pastilha elástica. Mas não é. É uma Terminologia. Linguística. Para o Ensino. O Básico e o Secundário. Através da qual deixam de existir substantivos, para passarem a ser unicamente nomes. E as orações deixam de ser orações. Agora são frases. E mais nada. Coisas de linguistas. Dos que andam pelas faculdades. E que crêem ter razão para colocar em prática uma profunda modificação. Tal como já anteriormente se havia feito com a gramática generativa. A tal que gerou confusões e equívocos durante anos. Com o beneplácito de ministeriáveis que, sem se saber como, dão a sua anuência a tais práticas. Pelo menos na aparência sem quererem saber dos alunos, de quem ensina, das consequências que daí podem advir, e muito menos o que é o estudo da língua. Mas o problema é que, pelos vistos, tal terminologia é para ser aplicada nas aulas de Português. Nas outras, de línguas estrangeiras ou seja do que for, fica tudo na mesma, os manuais continuam a referir orações, a não mencionar advérbios disjuntos reforçadores da verdade da asserção, e outras designações semelhantes.
Houve já quem acerca disto tivesse discorrido na imprensa, de entre os quais merecem destaque alguns nomes importantes da nossa praça, Maria Alzira Seixo, Eduardo Prado Coelho, Vasco Graça Moura, entre outros. Mas não valeu de nada. Pelos vistos, tais opiniões caíram em saco roto. Como aliás neste país continua a acontecer com quem emite opiniões com fundamentadas razões para o fazer. Teimosias. Parece que estão na moda. Dá a ideia que andamos num país de surdos e cegos, mas não mudos. Isso é que não. Porque se fala, e até demasiado. Mas de entre tais discorrências não tem saído algo que se veja, de que se possa dizer sim senhor, ou sim senhora. Avança-se alegremente, sem pesar os prós e os contras, contribuindo-se ainda mais para o estado de confusão generalizada. E depois surgem os elogios. Mais uma vez cegos e surdos, mas não mudos.
Claro que a culpa é dos professores. Aliás, de quem deveria ser? Foram eles os responsáveis pela brilhante criação da TLEBS e pela sua implementação nas escolas deste país. Por despacho. Sem uma formação generalizada. Sem haver sequer a ponderação acerca da sua utilidade. Ainda para mais num momento em que se pretende, e aqui sublinho o pretende, pôr ordem na casa. É um bonito serviço prestado à nação. Mais um. Entre tantos e tantos outros. Lá chegará o dia em que serão distribuídas medalhas por tais feitos. É esperar para ver.
E de quem será a culpa se tudo isto terminar num rotundo fracasso? Dos professores, ora essa. E de quem mais haveria de ser? Mas desta vez única e exclusivamente dos de Português. Porque a tal generalização, a tal pastilha elástica, TLEBS, é a estes em especial que foi presenteada. Bonito presente, não haja dúvida. Pode ser que, agora que se aproxima o Natal, tal oferenda se venha a popularizar. Ou então gramáticas, novinhas em folha, já a abarrotar de TLEBS. Diz-se, até, que os progenitores preocupados já correram às livrarias em tal demanda. Que foi uma loucura. Que nem houve mãos a medir para atender a tantas solicitações. E que irão vestir-se de Pai Natal e distribuí-las a torto e a direito. Não haverá lar neste país sem um destes novos preceituários.
Entretanto, quem vier atrás que feche a porta.
