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e quando em vez acontece, uma pessoa pensa que vai por um lado e dá por si de súbito a enveredar por outro caminho, e isto não é por distracção nem por azelhice, é assim mesmo, faz-se confiança no instinto de orientação ou na sinalização que se vê plantada por aí e, como se dizia, dá-se com os burrinhos na água, que é o mesmo que fazer asneira, indo parar a um lado qualquer que nunca viu nos dias da sua vida, nem muito menos nas dos outros, quem lá mora pode saber por onde anda, mas quem não sabe é como quem não vê e está o caldo entornado, anda-se para ali às voltas e voltas, acabando-se por ir parar ao mesmo lugar, tão desconhecido como era dantes, para dizer a verdade um pouco menos, uma vez que já o tínhamos visto há pouco, há quem desista e fique por ali, mas outros, mais pertinazes, investem furiosamente por ínvios caminhos na secreta esperança de finalmente descobrir o almejado rumo, é no que dá não se investir nestas coisas dos gepeesses, e ignorar com sobranceria os tais planos tecnológicos, anda-se à roda como o pião, mais valia andar a pé que sempre se podia ir deixando umas migalhas, que são coisas que se aprende na infância e que nunca se sabe se podem vir a ser úteis num dado momento da nossa vida, nos dias que correm já não se pode atirar seja o que for pela janela do carro senão apanha-se uma multa, o que é que o senhor condutor ia a atirar pela janela do carro?, eu, senhor agente, sim, o senhor, pois eram migalhas, senhor agente, para ver se dava com o regresso no caso de me perder, o senhor condutor deve estar a brincar comigo, eu não, senhor agente, então o senhor condutor não vê ali os sinais que lhe indicam as direcções, pois vi, senhor agente, e orientei-me por eles e vim aqui parar outra vez, é porque o senhor condutor não viu com atenção, vi, vi, senhor agente, se calhar ia a falar ao telemóvel, eu não, senhor agente, nunca faço isso quando vou a conduzir, e, se quer que lhe diga, nem sequer parado o utilizo muito, pois devia utilizar mais, porque podia telefonar a alguém para lhe ensinar as direcções, se calhar tem razão, senhor agente, mas como as pessoas que conheço não são destas bandas também não ia ajudar muito, então o que vem o senhor aqui fazer?, queria ir visitar uma exposição que há para estes lados, mas agora penso que já nem vale a pena porque com o tempo que levei às voltas creio que já fechou, pois devia ter vindo mais cedo ou estudado o percurso antes de se meter à estrada, eu bem tentei, senhor agente, mas não me serviu de muito, que isto parece um labirinto e se uma pessoa vai devagar aparece sempre alguém atrás de nós de mão colada na buzina, e com razão, que não se pode andar a entupir o trânsito, eis um bonito exemplo da solicitude dos agentes da autoridade, não é por mal, mas quem devia levar uma multa é quem andou a deixar que surgissem estes prédios por todo o lado e estas ruas que parecem não levar a lado nenhum a não ser para quem por lá anda dia após dia, e o mesmo se podia dizer para outros ramos da actividade humana, mas isso levar-me-ia por outros caminhos e por outros desvios.