U
m excerto de As Farpas, um poema de Mário-Henrique Leiria e uma tira de Mafalda, de Quino.
De As Farpas:
«O paiz perdeu a intelligencia e a consciencia moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciencias em debandada, os caracteres corrompidos. A pratica da vida tem por unica direcção a conveniencia. Não ha principio que não seja desmentido. Não ha instituição que não seja escarnecicla. Ninguem se respeita. Não ha nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguem crê na honestidade dos homens publicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inercia. O povo está na miseria. Os serviços publicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas idéas augmenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indifferença de cima a baixo! Toda a vida espiritual, intellectual, parada. O tedio invadiu todas as almas. A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das secretarias para as mesas dos café,. A ruína economica cresce, cresce, cresce. As quebras succedem-se. O pequeno commércio definha. A industria enfraquece. A sorte dos operarias é lamentavel. O salario diminue. A renda tambem diminue. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
N'este salve-se quem poder a burguezia proprietaria de casas explora o aluguer. A agiotagem explora o juro. A ignorancia pesa sobre o povo como uma fatalidade.»
Ramalho Ortigão, Eça de Queirós, As Farpas, vol. 1, Maio de 1871.
De Mário-Henrique Leiria:
A MINHA QUERIDA PÁTRIA
a pátria
os camões
os aviões
e os gagos-coutinhos
coitadinhos
a pátria
e os mesmos
aldrabões
recém-chegados
à democracia social
era fatal
a pátria
novos camões
na governança
liderando
as mesmas
confusões
continuando
mesmo assim
as velhas tradições
de mau latim
da Eneida
enfim
sabem que mais?
pois
vou da peida
Mário-Henrique Leiria
De Mafalda, de Quino:
