É
preciso que alguém diga isto: o ambiente nas escolas portuguesas, pelo menos nas do ensino público, está de cortar à faca.
Sente-se um mal-estar geral, um desânimo ainda mais acentuado do que há algum tempo atrás, que era já muito, esclareça-se, uma desmotivação que alastra em todos os sectores e que afecta funcionários e docentes, estes ultimamente sujeitos a um concurso que poucos irá abranger, nem sempre os mais assíduos, é importante esclarecer, nem os mais competentes, nem os mais empenhados, sendo antes um prémio para os que menos aulas deram porque foram nomeados para o desempenho de cargos que, habitualmente, se destinavam a completar horários e não por declarada competência de quem para eles era designado.
Mas tanto os que poderão vir a ascender à categoria de titulares como os que poderão não chegar a tal desidério reconhecem a injustiça da situação criada pelo concurso que presentemente se desenrola. E muitos dos que nunca ou raramente faltam aos seus deveres de professores, que, tanto quanto se saiba, passam primordialmente pela leccionação, vêem-se com espanto ultrapassados por colegas menos assíduos e que deram muito menos horas de aulas ao longo dos anos.
Não admira, por isso, que o clima de escola esteja cada vez mais negativo, que surjam discussões, que se acentuem animosidades e antagonismos, que se instale a frustração. Nalguns departamentos disciplinares, as vagas a concurso abrangem apenas um quinto dos candidatos, enquanto noutros quase cobre a totalidade dos que se podem habilitar, criando-se situações de enorme disparidade e desigualdade, que se baseiam em critérios obscuros, havendo assim docentes com uma grande competência na leccionação que serão claramente ultrapassados por outros professores com muito menos experiência, apenas porque a estes lhes foram atribuídos cargos porque, caso não o fossem, poderiam não chegar a ter horários completos e ver-se na situação de terem que mudar de escola.
Por muito que queiram estabelecer paralelos com a situação militar, aqui não se trata de funções diferentes: todos são professores, todos leccionam as mesmas disciplinas (não havendo qualquer hierarquia de importância de uns níveis face a outros dentro dos mesmos ciclos de ensino), todos desempenharam funções ao longo das suas carreiras, muito embora pareça que apenas os últimos anos contem para tal, ignorando a contribuição que os mesmos professores deram nos anos anteriores e a relevância dos cargos que assumiram nesse período de tempo. Não conheço sargentos e oficiais no ensino; não conheço tenentes, capitães, coronéis e generais. A não ser que se pretenda estabelecer alguma comparação com as personagens dos romances de Jorge Amado.
Acabo como comecei: o ambiente nas escolas está de cortar à faca. E isto não traz nada de positivo para a qualidade do ensino em Portugal; antes pelo contrário. E só não verá isto quem não percebe (ou não tem sequer a pretensão de fazê-lo) como funcionam as escolas e a importância que estas assumem para o futuro do país. Se o panorama é negro nas escolas, também o será para o resto do país. É preciso que se diga.
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