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á é hábito, esta nossa maneira pacóvia de andarmos por aí a ver isto e aquilo nos países estrangeiros e abrirmos a boca de espanto, que nisto de habituações não há melhor do que aquelas que se dão ares de importância andarem pelas terras dos brasis a visitarem museus de língua portuguesa e ah, oh, que bonito, temos que ter um destes lá em Portugal, vai daí espalha-se os tarecos que andam aos trambolhões num museu que não interessa a ninguém por aqui e por ali para arranjar espaço para copiar o que se viu lá fora, vai um outro aos nortes europeus e ah, oh, mas que escolas tão eficientes, que professores tão dedicados, que isto, que aquilo, temos que copiar isto lá para Portugal, melhor seria levarem também os alunos, as famílias e o resto, e como resultado trata-se da saúde aos professores que vai havendo por cá, vai-se lá fora ver os comboios, ah, oh, que belos comboios, que rápidos, que modernos, temos que ter coisas destas a andar pelo Portugal fora, assim como assim sempre se ganha uns minutitos na viagem entre Lisboa e Porto e faz-se boa figura, de aeroportos o melhor é nem falar, que grandes, que esplêndidos, que confortáveis esses por onde se passa nas cidades europeias, americanas, asiáticas, ah, oh, precisamos de um destes e é já, nem que caia o Carmo e a Trindade havemos de construí-lo, nem que chovam canivetes, se ficarem mais uns quantos aleijados paciência, vamo-lhes aos bolsos de qualquer maneira, que não somos de discriminações, pois claro, tributamos mais uma coisita ou outra, pespegamo-lhes com mais um ou dois por cento nos impostos, já estão acostumados e nem dão pela diferença, agora dê por onde der temos que mostrar aos estrangeiros que por cá também podem encontrar coisas modernas, tal e qual as que têm ao pé de casa deles, nem mais nem menos, sem tirar nem pôr, quer dizer, se tirarmos mais um bocadinho não é por aí que o gato vai às filhós, ora essa, não há mas é maneira de irmos nós lá fora, por exemplo à terra dos teutões, e afirmarmos alto e bom som, com trejeitos de admiração, ah, oh, que belos governantes que por cá têm, não há maneira de os exportarem lá para a nossa terra, que os que lá temos não nos parecem nada que valha a pena sustentar?