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os últimos tempos tem sido perfeitamente visível a enorme preocupação com que os responsáveis ministeriais ligados ao ensino lidam com os problemas dos alunos, através do recurso da decisão judicial acerca da repetição de exames nacionais por dois alunos e ao seu ingresso nos cursos de medicina, por mérito próprio, diga-se, face aos resultados que os mesmos alunos obtiveram nas provas repetidas, muito embora alguns dos mesmos responsáveis desde sempre tenham alegado que em primeiro lugar estão os alunos, daí que seja perfeitamente compreensível que recorram judicialmente, facto que deverá ter origem, por certo, na necessidade de os colocar em contacto com o funcionamento da justiça portuguesa, para desta maneira lhes mostrar, de forma pedagógica, que neste país se pode dizer uma coisa com a maior desfaçatez e fazer outra completamente diferente, deve ser precisamente isto que se pretende com um novo estilo de governação, que transporta para o ensino uma maneira de ser que mais não é do que uma imensa hipocrisia, será certamente uma óptima adaptação ao mundo adulto para os dois jovens, muito embora – infelizmente – tal possibilidade tenha sido negada aos restantes alunos que se viram na mesma situação e que não recorreram para os tribunais acerca da possibilidade de repetirem o exame, como aconteceu em ambos os casos a que acima nos referimos, privando toda essa população estudantil de tal experiência pedagógica, o que não se sabe lá muito bem se demonstra respeito por quem levou uma dúzia de anos de estudo, de investimento no seu futuro pessoal e profissional, mas que, pelo menos, nos deixa a pensar acerca das motivações de tal gente, as quais permanecem, como sempre, mergulhadas num nebuloso cinzentismo que vem norteando o rumo do ensino no nosso país, entregue a uma contabilidade de tostões, agora dir-se-ia de cêntimos, para se poder gastar noutro lado à tripa-forra, poupando nos farelos para se desperdiçar na farinha.