O
s feriados são dias em que nos convencemos que vamos pôr em dia as coisas que andam atrasadas há que tempos, que são aquelas coisas que vamos deixando para quando houver ocasião, acabando por se acumularem sem que lhes demos despacho, ficando por isso mesmo despachadas indefinida e irremediavelmente, esquecidas a um qualquer canto do nosso quotidiano, como trastes velhos, abandonados às teias de aranha que se vão formando na memória, até um dia darmos com eles e nem lhes conhecermos o préstimo que aparentavam ter quando os adiámos para o dia-de-são-nunca, daí que decisões semelhantes não sejam de maneira alguma recomendáveis, o melhor é convencermo-nos a sério que os feriados foram criados para ficarmos na lazeira até que esta se farte de nós, muito embora haja quem prefira engalfinhar-se com multidões nos centros comerciais e se ponha a mirar as montras a abarrotar de coisas que nunca irá comprar, por falta de dinheiro, de oportunidade, por isto ou por aquilo, uma miríade de razões que não vale a pena estar para aqui a escalpelizar, algumas com consequência e outras nem por isso, mais vale a pena ficar a dormir até às tantas, quando se pode, pelo menos, e depois ir ao cinema, ao teatro, visitar uma livraria, um museu, uma exposição, isto se as portas não se apresentarem fechadas na nossa cara, que a cultura também tem manias, há dias em que lhe apetece acordar mal disposta e mandar-nos às urtigas, que picam e não é pouco, só sabe quem alguma vez experimentou, por exemplo acorda sempre de péssimo humor às segundas-feiras, se bem que não conheço ninguém que acorde bem disposto às segundas-feiras, se calhar até há quem mas acontece não ser ninguém das minhas relações, também não me dou assim com tanta gente como isso, porventura ainda menos aos feriados.