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á coisas para as quais nunca tive estômago, e uma delas é a sabujice política, seja ela servida de que maneira for, com mais ou menos acompanhamentos, é no que dá ser esquisito, quem me manda a mim, se porventura o não fosse seria hoje talvez autarca, quadro político de um qualquer partido, ou, quem sabe, upa, upa, que nestas coisas estomacais o que é preciso é ter ambição, e quanto mais medíocre se for tanto melhor, torna-se afinal mais fácil, que uma pessoa que não tenha escrúpulos nem consciência, mesmo que venha a público alardear que a tem, é capaz de tudo e mais alguma coisa e para isso não tenho pachorra, nunca a tive, talvez nunca tenha morrido em mim um certo espírito anarca dos meus tempos de juventude, mas quebranta-me o ânimo e a esperança no género humano observar como existe quem se disponha a tudo para aparentar ser aquilo que não é e defender o que na verdade nem sequer acredita, se é que para tais gentes haja ainda alguma crença pela qual valha a pena pugnar que não seja o expediente político e o benefício pessoal, aliado a um qualquer prestígio pelintra que, na minha ingenuidade, não consigo entender nem à lei da bala, para isso se pretendendo fazer passar o que é manifestamente falso por uma grande verdade e um facto comprovado, sem que tal crie indigestões, e ainda menos pelos sapos que se dispõem a engolir, que eu cá se engolisse sapos certamente os vomitaria logo de seguida, nem sequer aprecio coxinhas de rã, nem muito nem pouco, nada, e se me dispuser a beijar a mão de uma senhora fá-lo-ei unicamente por cortesia e boa educação e não para prestar quaisquer vassalagens, que já foi chão que deu uvas e, se calhar, bom vinho.