
U
m destes dias, aproveitando um pouco do meu tempo de férias, decidi visitar o Museu Nacional de Arte Contemporânea, vulgarmente conhecido como Museu do Chiado, tendo de imediato sido alertado na bilheteira para o facto de a colecção do museu em exposição estar reduzida ao que se podia ver no átrio e pouco mais, havendo no entanto uma instalação vídeo de Alexandre Estrela intitulada Stargate que podia ser visitada, ainda assim não esperava que o pouco que se pudesse ver da arte contemporânea portuguesa fosse uma paupérrima mostra de pouco mais do que uma dúzia de peças, dela estando ausente a grande maioria das obras que pudessem dar uma ideia do panorama da arte portuguesa que dá título ao museu, para mais numa altura em que mais estrangeiros visitam Lisboa, para já nem falar do momento em que muitos portugueses têm maior disponibilidade de tempo para passear e para, de algum modo, formarem uma opinião acerca da produção artística no nosso país ao longo destes últimos anos, visitando o pouco que esta cidade, capital de um país da União Europeia, dentro em breve presidindo aos destinos da mesma, tem para oferecer a quem se disponha efectuar uma ronda pelos espaços culturais em vez dos bares, das discotecas, dos estádios de futebol e dos centros comerciais, predisposição de poucos, dir-se-á, mas que ainda assim mereceriam ser tratados com algum respeito e consideração e não sofrerem uma decepção idêntica à que senti nesse dia, num enorme e bonito espaço praticamente vazio, o que não admira, em que havia mais do dobro de funcionários para os escassos visitantes que por ali perambulavam, tentando vislumbrar o mínimo que havia para ver, onde não havia sequer um Sousa Cardoso, um Medina, um Cesariny, um Malhoa, um Carlos Botelho, um Abel Manta, um Júlio Resende, um Cargaleiro, para já nem falar de Vieira da Silva, de Maluda, de Paula Rego, de pintores estrangeiros, ou de outras manifestações artísticas contemporâneas, como a fotografia, por exemplo, mas qual quê, nada de nada, nem um cheirinho, deve mas é andar por aí uma data de gente distraída ou a fazer qualquer coisa que não seja nem financiar nem gerir museus, se quiserem vão mas é à Gulbenkian, que isto de museu nacional é só fachada, um nome para aparecer nas listas e já é bem bom.