Q
uando se acabam as férias, começo a entrar em profunda crise de nervos, o que me tem vindo ultimamente a dar cabo do juízo, principalmente de um ano para cá, aguardando de pé atrás as brilhantes soluções que a época de verão traz à tona nas mentes inundadas de ideias de quem de há uns tempos a esta parte vem mandando nos destinos do país, ou seja, extraordinárias inovações tecnológicas, curas milagrosas para isto e para aquilo, peregrinas teorias económicas que até façam dar lucro às pedras do chão e às árvores que entretanto arderam por aí fora, novas formas de encarar a divulgação artística e cultural, enfim, uma panóplia de assombros que me faça abandonar a depressão, o desânimo, a descrença e a vontade de fugir para um lado qualquer onde não haja nem jornais, nem rádio, nem televisão, o que não é fácil, bem sei, que há quem consiga aparecer em todo o lado, até mesmo onde menos se espera, como me aconteceu durante as férias, quando estava hospedado num hotelzito na Galiza e nem aí me consegui livrar de dar de caras com um desses espécimes governativos omnipresentes, pondo-me a maldizer tudo e todos na vã esperança de que não passasse de uma mera ilusão de óptica, mas qual quê, para além de não ter tido sorte nenhuma, ainda por cima foi quando desataram a aparecer incêndios por tudo quanto era canto, deixando-me mais defumado que um arenque, deve haver qualquer relação entre ambos os casos, ai não que não há, que uma desgraça daquelas nunca vem só, não vem, não.