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ada vez mais nos aproximamos da selvajaria completa, onde o dinheiro predomina sobre tudo e sobre todos, o que, aliás, não é estranho a este clima que se vive, a este governo que temos, a esta gente toda que anda por aí a tentar enganar todos e quaisquer uns que lhe passem pela frente para enriquecer da maneira mais fácil e mais rápida que puderem, sem cuidar sequer de olhar para as vidas que se vivem num desespero mais e mais profundo ou para quem se atropela para levar a bom porto a ridícula e desumana noção de progresso, vindo isto a propósito das recomendações que um qualquer troglodita com responsabilidades autárquicas fez aos microfones de uma rádio para que se apredejassem inspectores ambientais se porventura surgissem no caminho da inevitável modernização, um conceito vago com base no qual tudo se permite, incluindo deixar o país ainda mais de rastos do que já está, perfeitamente imprestável para as gerações futuras, para que meia dúzia de nababos comprem mais uns carritos de luxo, construam mais umas vivendazitas onde muito bem lhes apetecer, adquiram mais uns aviõezitos particulares para os levar de férias para as propriedadezitas lá fora adquiridas sebe-se lá como e com que prejuízos para o que se vai fazendo cá dentro, sinal mais do que claro e evidente do poder que gente como esta vai tendo à sombra de quem vai dizendo que governa o país com o bem geral como único norte de toda a sua prática, e o que não há é quem meta essa gentinha na ordem, quem lhes assaque responsabilidades por frases que mais parecem oriundas de um qualquer ditadorzito terceiro-mundista, quem lhes peça contas do desperdício novo-rico com que se vai tapando os olhos às gentes com o brilho dos brindes de meia-tigela que mais não são do que um desperdício do pouco que se tem, hábito aliás enraizado nos portugueses, que se habituaram a contentar-se com um exibicionismo bacoco de uma aparência de progresso, e para isso vale tudo, até arrancar olhos, ou partir cabeças à pedrada, numa atitude digna de tempos pré-históricos, quando pouco ou nada se sabia da dignidade do ser humano ou de pretensões de garantia de futuros, sustentáveis ou não, que é palavra que agora está na moda e que, pelos vistos, apenas acautela os interesses dos poucos que muito têm face aos muitos que nada possuem, numa barbaridade pretensamente civilizada que ostenta por estandarte qualquer divisa, desde que seja uma daquelas que se possa meter numa conta bancária na Suíça ou num ofechóre qualquer.