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elo que se vê, pelo que se ouve e pelo que se diz por aí, o que se pretende é fazer que cada português bufe por todos os lados, para a esquerda e para a direita, torná-lo um denunciador daqueles que havia no antigamente, em tempos que já lá vão, o que é bem exemplificativo de que os maus hábitos não morrem, apenas assumem novos disfarces, e de que quem manda afinal adora os tiques dos que mandaram antes deles, valendo tudo e mais alguma coisa para instaurar um estado de baixeza moral generalizada e de muito pouca democracia, dê por onde der, já apareceu até uma dessas mulheres que pelos vistos assumiram um tique qualquer da velha senhora de outras eras a afirmar que o que é bom nesta jigajoga de substituições de professores é que os que não faltam denunciem os absentistas, parecendo esta afinal a panaceia para a tendência de alguns profissionais não cumprirem com as suas obrigações, surgindo agora um novo conceito de denúncia por parte de proprietários de cafés, restaurantes e similares em relação aos fumadores, apontando o dedo aos criminosos, quando sempre me ensinaram desde criança que é feio apontar, criando dissensões entre frequentadores dos mesmos espaços, estimulando a quezília, e protegendo claramente a bufaria, qualquer dia temos aí a confraria dos bufos, se calhar com aspirações a sindicato, a ordem, a ministério, sabe-se lá a quê, o melhor é irem preparando um arquivozito para essa gente no género dos que havia na António Maria Cardoso e que agora, ao que parece, está a ganhar mofo na Torre do Tombo, porventura poder-se-á atribuir um prémio especial de comportamento cívico exemplar, se calhar com o nome de algum ex-inspector da PIDE, ou criar uma medalhística especial para outorga no dia de Camões, que serve para tudo, o coitado, muito embora nem lhe leiam os escritos ou, se o fazem, nem os apreciem por aí além, quem sabe se a essa gente não reservam igualmente uma pensãozita especial, um complemento de reforma, uma qualquer emprego num organismo a criar para o efeito, daqueles de ordenado chorudo que extinguem quando vagarem, tudo vale a pena num país de bufos, que eu cá, parafraseando um general dos tempos do PREC, o que poderei vir a dizer é: já fui bufado... duas vezes... não gosto de ser bufado... é uma coisa que me chateia, pá.