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ão conheço função pública nenhuma que seja tão função como a dos representantes parlamentares, que em vez de aprovarem diplomas que podem ser importantes para o país resolvem adiar tudo para as calendas, para quando der mais jeito, faltam a essa aprovação, ainda por cima tendo tentado provar que estavam presentes quando já se tinham posto a milhas, e pelos vistos para justificarem tão irresponsáveis atitudes bastar-lhes-á, tão-só, darem a sua palavra de que não faltaram quando faltaram (porque tinham escrito o seu nome assegurando que, de facto, não estavam a faltar), em nome de qualquer coisa tão diáfana como a respeitabilidade da palavra, assim se governa o país, ou nos governam a nós, que o mesmo é dizer que se governam uns aos outros ou se governam a si mesmos, vai tudo dar ao mesmo, assim como assim não passamos da cepa torta, o que, pensando bem, já nem é mau de todo, pior seria se não houvesse cepa de todo, nem torta nem direita, embora desconfie que a cepa já nem nos pertence, já foi vendida ao estrangeiro, ou então alguém já se apropriou dela, mesmo tortinha de todo, que ele há gente que não é esquisita nem se põe com exigências despiciendas, não olham os dentes a cavalo dado, é dado e pronto, logo se vê se daí vem algum lucro, que é no que toda a gente pensa, nem sei para que é que afinal se vota quando vai tudo dar ao mesmo, alguma razão teria o Saramago para pôr toda a gente a votar em branco, que se isso acontecesse lá teriam que vir as associações todas anti-racismo em peso, mas que é isso de votar em branco?, porque é que não se vota preto?, que discriminação é essa?, e outras atoardas parecidas, que há sempre uns à espreita que se dê um passo em falso para virem logo ameaçar com as bengalas e com os riscos de entorses e coisas no género, já não temos é gente responsável, ou pelo menos estamos reduzidos ao mínimo dos mínimos, o estatuto é bom mas o serviço é mal pago, por isso vamos todos às amêndoas e quem vier atrás que feche a porta.