É
facto por demais conhecido que de vez em quando os computadores fazem puf e vão-se, apagam-se, recusam-se terminantemente a acender luzes e a fazer seja o que for, entram de fim de semana, de férias, em greve, de zelo ou lá o que é, permanecem assim apagadinhos, sossegados lá no seu canto, nem tugem nem mugem, nem um arzinho da sua graça dão para amostra, ficam-se, perseveram no seu mutismo, bem se pode instá-los a que reajam, despejar uma caterva de insultos para cima deles, passar-lhes a mão pelo pêlo, desfiar um rosário de termos carinhosos, que a coisa não pega, de jeito nenhum, a coisa só vai lá com consulta marcada e despesa na farmácia, que é como quem diz no hospital dos computadores, e depois são os dias a olhar para ontem, à espera do SMS ou do telefonema a dizer que ele já está bom, pronto para outra, vem de semblante contente e tudo, ou não nos tivesse feito gastar uma pipa de massa com os tratamentos de beleza, tudo isto é mais do que certo e sabido, agora que o computador fizesse, sem mais nem menos, PUM, PUM mesmo, e fosse desta para a melhor é que é mais inusual, nunca tal me tinha acontecido, que podia ser um espirro a prenunciar outras desgraças, uma daquelas tosses de catarro que levam discos e tudo, mais o que lá está dentro, e nos põem a tremer que nem varas verdes, afinal de contas até nem era doença rara nem contagiosa, nem sequer gripe dos computadores, a tal de fonte de alimentação é que se recusou a continuar a alimentar-se, tornou-se bulímica, sei lá, deve ser mania das fontes de alimentação, fecham a boca e recusam o resto da sopa, mas que me deixou a ver navios, lá isso ninguém lhe tira, se calhar achou-me com cara de descendente de algum navegador de quinhentos, que por pouco ia sendo isso mesmo o que me ia custanto a brincadeira, não querem lá ver?