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á quem tenha a mania de dar aos filhos os nomes mais estranhos que se pode ouvir à face da terra, habitualmente são os brasileiros quem dá cartas nesta arte, com uma capacidade inventiva que causa inveja às almas mais criativas deste mundo, mas nestes últimos tempos é possível assistir às mais estapafúrdias lembranças em matéria de nomes que não passariam pela cabeça de ninguém, quer dizer, pelos vistos passam pelas de uns quantos, a julgar pela amostra que vai aparecendo nos registos de nascimento e que, de uma maneira ou de outra, acabam por chegar a público e de entrar no rol das estranhezas, como é o caso de uma criatura a quem os progenitores tiveram a ideia de chamar Lenina, coitada da rapariga que provavelmente nem sabe a quem deve o nome, que hoje em dia juventude mais politizada é coisa algo rara, e mesmo assim nem sempre as tendências caminham no mesmo sentido dos respectivos antecessores, que nisto de gerações sempre se ouviu falar de conflitos, ainda assim vá-lá-vá-lá que não optaram por Estalina, que aí é que seria a desgraça completa, imagino a galhofa dos colegas desde os primeiros anos de escola, a Estalina estala, estala lá, ó Estalina, e coisas no género, para Lenina sempre é mais complicado desencantar tão óbvias graçolas, mas a pobre da criatura bem que podia chamar-se Trotsquina, ou outra preciosidade no género, recorda-me agora um amigo meu que tinha uma tia chamada Portugal, mas a quem, por ser muito gorda, chamavam tia Península Ibérica, um dia destes aparece uma Bolchevica, se calhar até já anda por aí e eu é que não sei, o que é feito dos nomes de antigamente é que é um mistério, já se sabe que nisto de ter filhos e de ter que encontrar uma nomenclatura não é mesmo nada fácil, é obra, há quem vá pelos nomes dos santos, pelas letras do alfabeto, conheci uns irmãos cujos nomes começavam todos pela letra dê, Dione, Délia, Dídio, enfim, são manias como outras quaisquer, agora nomes sonantes como os de outrora é que tomaram sumiço, acabaram-se os Honoratos e as Brancas, quem é que se atreve a chamar Branca à filha nos dias que correm, só se for doido, isto para já nem falar das Urracas, das Brígias e outras que tais, que essas há séculos que desapareceram dos tombos, e isto já nem é bem Portugal, é outra coisa qualquer, mas Portugal não é, pode ser a Europa, ou a União, ou lá que nome lhe dão, que rima com globalização, agora vem aí Bolonha e é um vê-se-te-avias de cursos, que o que é preciso é ter aí um ror de licenciados à pressão para ver se ficamos iguais aos outros todos que já nem vale a pena sermos diferentes, para quê, fica tudo igual e pronto, arruma-se a questão, daqui para a frente começo a escrever in english, porque o Portuguese está a morrer inch by inch e já não vale a pena lutar against it, mais vale irmo-nos adaptando às inches e esquecermo-nos dos metros e os centímetros, deve ser por isso que uma data de gente já começa a conduzir pela esquerda, é um notável esforço de adaptação, não tenhamos dúvidas, os outros todos é que vão pelo lado errado, ora essa.