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á vem de há anos a esta parte, e não tão poucos como isso, a mania inglesa de cobiçarem tudo quanto vêem neste país dos pequeninos, primeiro eram as terras no Norte de África, depois lá para os lados das Índias, para já nem falar nas princesas e nos dotes, em dinheiro e em espécie, que gente daquela não tem nada de seu que não tenha levado de qualquer lado, emprestado, a título definitivo ou quase, oferecido de mão-beijada, e nisso os portugueses sempre foram assim, amigos de darem tudo e ficarem com quase nada, é uma gente modesta, a quem para viver basta um pedacinho de terra, umas couvitas, umas galinhas e pouco mais, aproveitadores é o que são, essa gente que até bem há pouco tempo não se entendia sequer no seu próprio país porque não percebia o que uns e outros diziam, basta ver que ainda por lá andam à bulha, mas isso também aqui ao lado os nossos vizinhos sofrem do mesmo, é no que dá a mania das grandezas, e nos tempos mais recentes o que se viu foi mais do mesmo, que uma pessoa já nem pode ter um pedacito de terra lá para os suis com praias, água morna e um tempo assim-assim, que lá vêm suas excelências instalar-se no que não é deles nem nunca foi e fazem daquilo propriedade sua, levam os jogadores da bola, depois os treinadores, que é dos poucos produtos que ainda valem alguma coisa para exportação, isto nem falando nos vinhos licorosos, são mesmo doentes da cobiça, ai-não-que-não-são, e ainda por cima uma pessoa nem se pode fiar neles, senão ainda vêm por aí fora pôr-nos a barcaria toda na barra do Douro ou do Tejo e depois nem saímos nem entramos, ficamos a ver navios, é o que é.