...o que mais incomoda é que haja silêncios por parte de quem não devia calar-se...
O que mais incomoda é que haja quem possa sequer pôr em causa aquilo por que gerações e gerações se bateram, para que fosse possível, se assim o entendermos, afirmarmos que não acreditamos em religiões, nos seus dogmas, naqueles que, vá-se lá saber porquê, se consideram suficientemente inspirados para falarem e imporem as suas opiniões em nome de uma entidade que nem sequer conhecem.
O que mais incomoda é que se tente fazer pensar - ou afirmá-lo de qualquer maneira, ou sob a forma de uma qualquer manifestação artística - que a liberdade não é possível, que há restrições, que se deve guiar o nosso pensamento e o que dizemos pelo temor a qualquer coisa de inefável em que nem sequer cremos, mas em que nos querem fazer acreditar, mesmo que seja pela força das armas ou das ameaças.
O que mais incomoda é que haja receio de sociedades que vivem como há muito tempo deixámos de viver mas que, pelo terror, pretendem guiar toda a humanidade.
O que mais incomoda é que o receio de perder os recursos de que continuamos a depender possa ditar um claro recuo nos nossos direitos e na nossa liberdade.
O que mais incomoda é que alguém se possa aproveitar, com intenções obscuras, de um facto para generalizar, quando até então sempre afirmou que as generalizações são um contra-senso e que por um criminoso não se deve condenar um credo, um povo, uma sociedade inteira.
O que mais incomoda é descobrir que tudo não passou de um movimento orquestrado.
O que mais incomoda é saber que me querem fazer pensar e dizer não o que penso e sinto, mas o que outrem pretende que pense e sinta.
O que mais incomoda é começar a sentir que me foge, por entre os dedos das mãos, a minha liberdade.
O que mais incomoda é que haja silêncios por parte de quem não devia calar-se.