O chato é aquele tipo de pessoa de sexo indeterminado - muito embora haja uma maior tendência no sexo masculino, vá-se lá saber porquê - que tem por hábito estar no sítio errado à hora errada, nunca se dando conta de que está onde não se deseja que esteja, tendo uma capacidade inata de dar cabo dos projecto seja de quem for, sem olhar a meios, custe o que custar e seja a que horas for, o mesmo é dizer que aparece quando menos se espera que apareça, surgindo inesperadamente nos locais mais inusitados com um sorrido daqueles de orelha a orelha, sem qualquer espécie de remorso, o que é uma característica específica deste género de pessoa, a ausência total de remorsos ou até mesmo de consciência social, para já não falar de maneiras, que é coisa intolerável sempre que se trata de situações potencialmente embaraçosas, mas chatos, chatos, são mesmo aqueles que nos entram pela casa dentro todos os dias, sem pedir licença seja a quem for, e que vêm com a mesma conversa de sempre, que é aquela que sim, que não, mas que também, sem variações de espécie alguma, nem meio tom acima nem meio tom abaixo, surgindo a qualquer hora do dia sem se fazer rogado, ainda para mais com uma data de gente atrás a fingir que sim, que o chato é que é bom, que o chato é que sabe, que o chato não é chato, não senhor, isso é o que dizem dele para o denegrir, que é impressão de quem o ouve, vai-se a ver e no fundo o chato continua chato como sempre, mais ainda, se tal for possível, a azamboar-nos constantemente os ouvidos, a mostrar o nariz em tudo quanto é sítio sem pejo algum, a meter-se à frente dos outros, a meter conversa sem para ali ser chamado, e se o chamam ainda é pior, então é que não se cala mesmo, que o chato é assim mesmo, chato por natureza, ainda me recordo dos tempos em que dizer tal palavra era socialmente condenável, não é que hoje seja assim tão mais aceite, mas como o que vale hoje em dia é ser ordinário, e quanto mais, melhor, lá me lembrei de escrever uma data de chatices.