Sobre os patos, é preciso que se diga, é fundamental ter uma opinião, antes do mais porque ter opinião sobre o que quer que seja é mais do que nunca uma questão de direito e de cidadania, uma questão de liberdade, e se há quem diga que tais asserções são por demais escusadas, outros afirmarão precisamente o contrário, que todas as ideias são bem vindas e que quanto mais luz se fizer sobre um determinado assunto mais fácil se torna discuti-lo nos seus diversos pormenores, daí pretender aqui contribuir, mesmo que modestamente, para o debate público desta temática, os patos, pois então, palmípedes indispensáveis em charco que se preze, esteja ele num jardim público ou em ribeira de águas correntes, paradas ou poluídas, havendo contudo quem os prefira assados, com mais ou menos arroz ou sob a forma de qualquer outra iguaria gastronómica, incluindo a forma embrionária que são os respectivos ovos, ou quem se contente em vê-los a nadar de cá para lá ou com aquele andar gingão de macho à portuguesa, faltando-lhes apenas as mãos para enfiarem os polegares à cinta e uma boca mais maneirinha onde pendurar o cigarro e com capacidade para pronunciar a meia dúzia de vocábulos que constituem o seu léxico preferido, depois há ainda as patas-chocas, que quanto mais pressa se leva maior tendência têm de se nos meterem à frente percorrendo com grande diligência um e outro lado dos passeios para que se possa continuar a apreciar devidamente a sua aptidão inata para tal espécie de ocupação do espaço, depois há os patos-bravos, em que ninguém consegue ter mão e que vão a todas, e ainda há a considerar aqueles que são simplesmente patos, não por causa do bico, das penas ou das patas, mas apenas porque o são, fáceis de levar no bico, que é como quem diz ingénuos q.b. e um tanto ou quanto inócuos, se bem que haja quem discorde desta aparente singeleza e os culpe por tudo e por nada, está bem de ver que era o que faltava, que este país estivesse como está por causa de sermos quase todos patos, e sublinhe-se este quase, porque há aqueles que são de Olhão, mesmo que não sejam algarvios, que tenho cá para mim que esses tais até nem vão muito à bola com os algarves a não ser para passar férias, e é vê-los por aí, a arrotarem postas de pescada por tudo quanto é lado, também nem sei para que é preciso tanto alarde para se dar a entender que se andou a comer tal espécie de peixe, que é o mais vulgar que se encontra à venda em tudo o que é supermercado, mas gostos não se discutem, enfim.