Aquilo que se vai sabendo por ouvir notícias e por ler o que se mete nos jornais dá bem conta de uma maneira muito particular que se tem por estas terras de encarar a vida e o mundo de todos os dias, de que não faz parte qualquer especial consideração por regras e outras convenções que tais, venham elas escritas em letra de lei em calhamaços que ninguém lê - bem, ninguém, ninguém, não será o caso, que ele há-de haver sempre um advogado qualquer disposto aos maiores suplícios de poeiradas e teias de aranha para conseguir chegar aonde vivalma alguma o tenha feito antes e de lá sair com vida e saúde, pelo menos sem ataques de catarro de maior - ou escarrapachadas em páginas virtuais onde ainda menos gente se arrisca - a não ser que se proponha a uma candidatura no livro dos recordes pelo mais inusual acto de masoquismo - e menos ainda se aquilo que sobranceiramente se ignora estiver apenas presente na opinião geral e comummente aceite pela generalidade das gentes, pelo que esta maneira de encarar os outros é um solitário - se bem que não único, já que praticantes desta arte são o que por aí mais abunda - acto de veemente e firme desprezo por todos os outros que não a excelentíssima pessoa que os pratica, afirmação que já vai longa, para já não dizer confusa, e que está directamente relacionada com um indivíduo que terá sido apanhado 16 (dezasseis, por extenso, que é para não ficarem dúvidas acerca do algarismo em questão) vezes a conduzir sem estar habilitado com um título de condução, vulgo carta, continuando alegre e persistentemente a praticar o mesmo acto sem que haja alguma maneira de o impedir de repetir tal proeza, o que representa um perfeito exemplo da impunidade que se vai praticando nesta terra, em que toda a gente faz o que lhe dá na gana sem que haja quem ponha cobro a similares desmandos nem quem tenha coragem de dizer que já basta, chega, é suficiente, já se viu que isto assim não vai lá nem com paninhos quentes nem com aconselhamentos de psicologias de pacotilha, e pelos vistos vai continuar assim por tempo indeterminado, ou seja, para sempre, cada vez melhor, pelo menos até vir a mulher da fava-rica, que nos dias que correm já se sabe que nunca mais tem jeito de aparecer, agora favas só no supermercado, em sacos de plástico a saber a mofo, que é àquilo que sabe igualmente o bom senso das pessoas, pelo menos de muitas delas, que os desmandos são cada vez mais abundantes, e pelo que se vê e ouve já entraram numa rotação de moto contínuo, acabaram uns de nos moerem o juízo e já vêm outros atrás, e a procissão ainda vai no adro, isto apesar de haver muita gente que é contra as procissões, se bem que não sei então lá muito bem o que é que vão fazer atrás dos padres, perdão, dos caudilhos políticos, que são outra espécie de padres, lá para as reuniões, os comícios, atrás de seja lá que andor for. É que ele há muitas maneiras de ser ateu. E de não ser mitómano de espécie alguma.