Faz hoje exactamente 232 anos que os porcos foram proibidos de andarem dispersos pelas ruas de Lisboa, efeméride de nota, e que foi, é minha convicção, uma excelente ideia, que só é pena não ter tido aplicação prática até aos dias de hoje, apesar de terem passado pelas cadeiras do poder, das mais altas às mais baixas, algumas gerações de responsáveis, que nunca chegaram a acabar realmente com a porcaria, quanto mais com os porcos, que, mais ou menos gordos, com maior ou menor grau de consciência, continuam a presentear os passeantes com todo o tipo de lixos, sem que alguém se recorde dos tais 232 anos que passaram desde que tal proibição se tornou letra de lei, o que não é de admirar face a tantos e tão graves acessos de amnésia galopante, que, segundo parece, foi maleita que assentou arraiais junto às tais cadeiras do poder e com a qual de então para cá nunca mais conseguiram correr, nem à força de memorandos ou outras panaceias, antes pelo contrário, o esquecimento instalou-se, veio para ficar, e agora os porcos é vê-los por todo o lado, invadem tudo de grunhidos e a guincharia, então, é mais do que muita, sobretudo em certas alturas do ano, que ainda há poucos dias nem se conseguia dormir com a algazarra e daqui a mais uns tempos volta tudo ao mesmo, mudam-se os porcos e não se mudam as vontades, é caso para dizer, se calhar nem que lhes desse uma gripe daquelas que põem meio mundo em alerta havia maneira de nos livrarmos deles. Viva, ao menos, o chouriço assado no álcool.