Ia eu pela rua no outro dia e dei de caras, aqui para as minhas bandas, com um letreiro luminoso (era já noite, mas não chovia, que é para não seguir aquele inevitável preceito das intrigas pretensamente romanescas) que rezava Oficina dos Petiscos, o que me intrigou profundamente, porque fiquei sem saber ao certo que aquilo dizia respeito a uns tais de Petiscos que possuíam uma oficina de qualquer coisa, bate-chapas e tinta Robialac, gráficos reunidos ou algo no género, ou se era um botequim de petiscos caseiros ao qual, com pretensões de originalidade (e de alguma piada) se pretendia chamar oficina, fosse lá por que razão fosse, ou porque por aquelas bandas se fabricavam iguarias de fazer água na boca, ou então por se tratar de algum local onde se ensinava a fazer desses tais pitéus de comer e chorar por mais, que uma pessoa de guloseimas nunca se farta o bastante, e é preciso que se tenha a coragem, nos dias de hoje, de tecer tais considerações, face às ameaças dos maníacos da comida saudável e de sei lá mais o quê, sendo que uma terceira alternativa para tais parangonas era o facto de por ali pararem daquelas pessoas que vão a todas, seja lá qual for a finalidade do esforço empresarial que ali tenha lugar, e o nome era apenas um chamariz para que os tolos viessem ao cheiro dos bolos, que há sempre quem caia na velha esparrela, por mais avisado que seja aquele que ande por aí a aclamar aos quatro ventos que é mais esperto do que o primeiro dos espertos, que nisto de prevenções é tudo a dizer que sim senhor, e depois volta tudo ao que era antigamente, estava-se mesmo a ver que sim, nem outra coisa seria de esperar, vou-ali-e-já-venho é uma das mais velhas lérias que se rezam neste país, desde tempos imemoriais, mas a tal de oficina é que me caiu aqui na lazeira e não houve maneira de correr com ela de lá, ainda um dia destes tenho que tirar tudo a limpo, afinal há petiscos ou não há petiscos, arranjam-se os petiscos que estão estragados e põem-se como novos, é oficina ou não é oficina, se calhar o que há por ali é mas é gato. Ou então é outro bicho qualquer e deram-lhe assim uma demão de tinta para enganar o próximo e toca a andar. Um dia destes tenho mas é que pensar em escrever sobre outros tipos de petiscos, e há por aí gente que ao olhar para o próximo só pensa que lhe saiu um grande petisco, olá se saiu.