Isso é que eu não gostava mesmo nada, de andar para aí nas mãos de sabe-se lá quem, uns com ar de depravados, outros mais ou menos, outros ainda com aspecto de taberneiros embrutecidos pelos vapores de anos e anos de vinho barato e os sapatos envernizados por camadas e camadas de vomitado com que a clientela foi acimentando o sobrado, não era coisa que apetecesse andar uns dias nas mãos de fulanos, noutros nas de sicranos, coitada da Vitória que já nem sabe de que terra é, que fica mais aparvalhada quando ouve na televisão um tal com ar de talhante afirmar peremptoriamente «a Vitória está nas vossas mãos», e ela ali em casa sossegadinha, sentadita no seu sofá a encabular-se com tanto despudor, não querem lá ver que aquele marçano agora diz que eu ando com este e com aquele, olha a fama com que uma mulher séria acaba por ficar, só porque um tipo qualquer cheio de parlapié se mete à frente de uma data de gente, que ainda por cima não conheço de lado nenhum, a dizer coisas acerca da minha pessoa, que amanhã saio à rua e levo logo com olhares de través, cochichos daqui e dacolá, ainda me cortam o fiado na mercearia ou me fecham a porta na cara, se não for caso mesmo para pior, que esta vizinhança para tomar uma pessoa de ponta está mesmo por aqui, é zás e pronto, podes ir fazer companhia às brasileiras e às russas lá para a vivenda do Gonzalez, que te faz logo contrato e te põe com cama, mesa e roupa lavada, eu cá tenho é mesmo que ir à polícia fazer queixa de gente desta, não há direito, andarem assim com uma mulher séria para trás e para a frente, é uma pouca vergonha, que essa gente não tem respeito por ninguém, é o que é.