O sargento Pereira da guarda era irmão do Zé que tinha o tasco das bifanas e que afinal se chamava Rogério, que tinha um cunhado chamado Abel, que era primo da senhora Rosa da tabacaria, casada com o senhor Almeida que era empregado de mesa no restaurante mais conceituado do bairro, padrinho da Belinha, filha do Manuel Mulato, que era funcionário da portaria do Instituto de Emprego e Formação Profissional, o qual, por sua vez, tinha casado em segundas núpcias com uma tal de Juana, que era de Oviedo e que tinha trazido para Lisboa, por altura do casório, uma irmãzita pequena, que depois de crescidita acabou por ter um caso com um paquistanês que era sócio de uma loja de móveis situada algures na avenida Almirante Reis, de que tinha nascido um catraio a quem deram o nome de Manuelito, que, já adolescente, namorou com uma rapariga da Mouraria, sobrinha de uma cozinheira que trabalhava para os condes de Vinhais, por sua vez casada com o couteiro de uma das propriedades da família e que era originário do Souto, vizinho de uma família a quem chamavam de Pombeiros, por histórias já antigas e que não merecem agora a pena colocar a nu, e cujo elemento mais proeminente tinha sido futebolista na equipa d'Os Belenenses pelos anos 50, embora sem grande sucesso, é preciso que se diga, e que depois se meteu na bebida e acabou preso por ter feito uma filha a uma criada de fora de um tenente-coronel do exército cuja mulher meteu a dita criada na rua, que não teve outro remédio senão voltar para casa dos pais, que moravam na Graça e que eram funcionários da junta da dita freguesia, onde era secretária uma menina Joaninha, afilhada da cabeleireira mais popular ali na zona e que dava pelo nome de Odete, que tinha um irmão que tinha emigrado para a Suíça para fugir de uma namorada que era mais possessiva do que o próprio caso possessivo na língua latina e que por sua vez andava actualmente metida com o sargento Pereira, o que vem atestar que este mundo é mesmo pequeno e que o que mais há por aí são coincidências.