
O
céu pesado de chumbo tornara-se negro, um luto carregado que não deixava passar o menor raio de sol, e era agora a terra que brilhava, o mar, a erva, as árvores emitiam uma luz brilhante que quase ofuscava e que fazia aquele negrume por cima de tudo ainda mais lúgubre, de onde não caía nem uma gota de chuva nem transparecia um sinal de vida, a menor faísca de luz de estrelas, era um filtro que tudo bloqueava, confundindo as aves, que esvoaçavam sobressaltadas sem rumo nem poiso até tombarem de exaustão, emudecendo cães e paralisando gatos, aterrorizando as gentes que, sem saber, haviam provocado tudo aquilo. Foi então que as crianças começaram a nascer com os olhos brancos.
Ilha de Arousa, 27 de Julho de 2005