O que mais admira neste país é uma tendência declarada para a roubalheira e para enganar o próximo e uma inaptidão para o negócio e a ineficácia de quem devia tomar conta das coisas, que para isso se candidatou, se ofereceu, se disponibilizou, seja lá o que for que essa gente faz, como o faz, e de que vive, mistério que sempre me assolou e para o qual até hoje não consegui encontrar solução, muito embora ainda não tenha desistido de encontrar para ele uma resposta lógica, coerente e globalmente satisfatória, mas essa falta de olho para o negócio, a não ser que tenha algo de ilegítimo, admira-me sobremaneira quando do que se fala é de uma economia competitiva e capaz de conferir alguma notoriedade aos poucos produtos que ainda vai produzindo, reflexão esta que vem a propósito de ter ido passar um diazito de descanso a um hotel da chamada Costa de Prata, em cujo bar se vendia mais bebidas estrangeiras do que portuguesas e onde nem figura um único vinho português, se descontarmos os inevitáveis vinho do Porto e Madeira, que bem podiam ter aqui uma óptima oportunidade para, constando na ementa, divulgar a produção portuguesa de qualidade nesta área, que a há, e boa, diga-se, ao mesmo tempo que dava uma maior visibilidade aos vinhos perante os turistas estrangeiros - e portugueses - que frequentam tal estabelecimento, contribuindo para a divulgação destes produtos em detrimento de beberragens importadas e com um muito maior teor de álcool, e mais nocivas para a saúde e para a balança de pagamentos, em que devíamos estar todos empenhados, o que pelos vistos não é bem assim, tal como não é o facto de servirem as bebidas e não trazerem de imediato um talão de caixa ou uma factura, acto assaz invulgar neste nosso país, ao contrário do que se vê lá pela estranja, não admirando mesmo nada que a fuga ao fisco se dê por tudo o que é fresta por onde a tal fuga se pode dar, pelos vistos há falta de fiscais para darem com a marosca que se pratica todos os dias e a todas as horas, ou então dos que para aí há grande parte está-se nas tintas ou andam a untar-lhes as mãos bem untadas, já que mexem em tantas coisas escorregadias, quando o que devia acontecer era exactamente o contrário, que não percebi até aos dias de hoje quem anda a fiscalizar o quê, a tendência que tenho notado é para andarem a chatear os pequenos e o peixe mais graúdo, já dizia o famoso padre do século dezassete, come os outros todos e ainda fica a rir-se a bandeiras despregadas, que é frase que nunca entendi bem o que quer dizer e de onde vem, será certamente mais um daqueles mistérios bem peculiares cá dos nossos para juntar a tantos mais, que falta deles é que não temos, até se podia exportar, e se calhar até dava para contribuir para o equilíbrio da tal balança, que anda cada vez mais avariada e com falta de fiscalização, pelo menos é o que eu acho.