A imbecilidade possui raízes fundas, tão fundas que, na maior parte dos casos, nem consegue mexer-se do sítio onde está instalada para se abrir ao mundo ou ao que quer que seja, que é o que se passa neste país onde toda a gente opina acerca de tudo e mais alguma coisa, mesmo que nada saiba acerca do assunto, ou até achando que sabe, que é a mais nociva e perigosa forma de ignorância, tal como a cegueira de quem vê mas não vê, apenas porque não quer, ou porque não lhe interessa, ou porque acha que tem uma opinião que é melhor do que as de outrém, porque está convencido de que quem sabe umas coisitas de qualquer coisa sabe umas coisitas acerca de tudo, que é tipo de gente simplesmente detestável, pelo menos para mim, que gostos há-os para tudo e mais alguma coisa, até para gostar de gente detestável, para ouvir o que dizem e ler o que escrevem, porque ainda por cima tais individualidades gostam de ouvir-se a si mesmas, há quem diga que até gravam as suas palavras para alimentarem o seu próprio narcisismo e ouvirem repetir o mesmo discurso vezes sem conta, como num ciclo infinito.
Há dias em que uma raiva nos consome, e este é um deles, um dia em que me pareceu voltar aos tempos do antigamente, em que alguém achava que queria, podia e mandava, apesar de tudo, das pessoas, dos seus direitos, das leis que nos regem, de tudo o que há trinta e um anos uns poucos lutaram e conseguiram para o bem de todos.
Pelos vistos ainda não acabaram os tempos das ditaduras...