É certo e sabido que a língua portuguesa é uma língua bastante rica na sua sinonómia e no seu léxico, e exemplo deste facto é a quantidade de palavras que podemos encontrar para designar os órgãos sexuais masculino e feminino, conforme se pode verificar em dicionários diversos da especialidade, existindo até estudos que podem ser encontrados na Internet sobre o assunto, isto para já não mencionar aqui o voculário mais erudito, que não é propriamente o âmbito deste pequeno texto, daí que não se entenda lá muito bem uma certa tendência para a economia que os seus falantes teimam em utilizar, com uma mania de coisar tudo e mais alguma coisa, como se toda a gente estivesse completamente a par de todos os sinónimos que a palavra pode assumir nos mais diferentes contextos, e ainda o vício que apresentam na referência vaga sobre os mais diversos assuntos, de que podemos aqui exemplificar quando alguém se refere ao que outrém disse afirmando que fulano de tal, ou sicrano, ou seja quem for, estava para ali a falar de não sei quem que fez não sei o quê, que às tantas ia a casa de uma tipa, mas só lá iria se o tempo estivesse assim-assim, e que se fosse coisa e tal, que a saúde ia mais ou menos, e já não dava para grandes vôos, podia ser que a coisa pegasse, e se não pegasse paciência, mais dia menos dia, se calhasse, logo se via, nem tanto à terra nem tanto ao mar, que o que é preciso é levar a coisa nas calmas, se não calhasse o mundo também não se acabava, com mais isto e aquilo ia-se levando a água ao moinho, a pouco e pouco lá se havia de compor.
Eis um belo exemplo para psicólogos, esta tendência para a inexactidão, para a incerteza, para a pequena satisfação, para o conformismo, para a hesitação, coisa de somenos, dir-se-á, que não é necessário fazer uma tempestade num copo d'água, nem uma pessoa ralar-se por tão pouco.