Apesar de tudo, apesar de dizermos não posso, não quero, não devo, apesar de tudo, apesar de ser assim que deve ser, apesar de sabermos que é difícil, que é errado, que nada mais deverá estar para além daquilo que somos, que fazemos, que criamos, daquilo com que vivemos, das pessoas com que vivemos, que amamos, que alimentam a nossa vida todos os dias, apesar de tudo o resto, às vezes apaixonamo-nos por um rosto, por um olhar, por um sorriso, por tudo aquilo que apenas entrevemos sem mais nada sabermos para além disso, que é pouco, que é muito pouco, um quase nada, menos ainda do que efémero, um instante que de repente nos prende o olhar, que nos deixa sem pensar, para além de sabermos que não há nada mais a dizer, ficamos assim, muito para além de tudo o que somos, o que pensamos, o que acreditamos, o que julgamos possível, o que cremos ser impossível, o que tínhamos por certo que nunca viria a acontecer, não, afinal será que é isto que eu sou, se apenas num olhar fica tudo o que eu pensava que não era, será que naquelas palavras, naquele rosto, naquelas mãos, naquela boca eu irei descobrir outras verdades para além das que aqui tenho como minhas, sei que não, que todos os mundos que conheço já os inventei um dia, e que agora nada mais resta do que o tempo que ainda vou tendo como meu.