O homem esdrúxulo é um indivíduo a quem, por uma razão ou por outra, deram este nome, se calhar à falta de melhor, e era tema de conversa de crianças quando uma pretendia meter algum medo às restantes, afirmando, então, vem aí o homem esdrúxulo, e ficava tudo a tremer de medo porque ninguém sabia quem era tal criatura, quais eram as suas intenções, nem com quem se parecia, mas não devia ser coisa boa para ter um nome daqueles, esdrúxulo era palavra que metia medo, a ignorância é a mãe de todos os medos, é o que se diz, a minha veia criadora não chega para tanta sabedoria, muito menos quando se trata da sabedoria das crianças, que pode ser tão efémera quanto a infância mas é certamente de respeito, a julgar na maneira como as outras reagem à sentença de quem afirma coisas destas, afinal não é todos os dias que uma pessoa conhece alguém que lida tu-cá-tu-lá com o homem esdrúxulo, para se ter confiança com uma individualidade assim designada é preciso muito calo e isso, quer queiramos, quer não, é digno de nota e confere um estatuto especial a quem se aventura a tais familiaridades.
O homem esdrúxulo sabe-se então que é homem, de idade indefinida, nem alto nem baixo, esdrúxulo, portanto, e saber mais do que isto é já saber demais, há limites para a curiosidade, e quando esta é excessiva os limites são ainda mais curtos, que a bisbilhotice pode sair cara, no outro dia ali na papelaria do senhor Rodrigues quiseram levar-me cento e cinquenta euros por uma dose mínima de coscuvilhice, daquelas pequeninas mesmo, achei que era demais, está tudo doido, onde é que já se viu levarem couro e cabelo por uma coisa de nada, anda meio mundo a querer enriquecer rapidamente à custa da outra metade, mas isso é coisa que não aceito, recuso-me terminantemente a pactuar com tais exageros, caso contrário chama-se o homem esdrúxulo e fica o caso arrumado. Francamente...