O Brado das Pitas é mecânico e aos fins de semana lá vai para as discotecas armado em cavalo de corrida com uns carros que leva emprestados da garagem, mete conversa com as gajas e vai-não-vai até consegue levar uma na conversa, olha ali um dos meus carritos, elas a abrir a boca de espanto, então tem mais?, olá se tenho, eu é que não sou de contar histórias, replica, dando-se ares de modéstia, uma pessoa também não deve exagerar para não passar por novo-rico, pato bravo ou seja lá o que for, que nunca vi patos bravos de automóvel, não querem lá ver, que raio de coisa, como é que chegavam aos pedais, se calhar de buzina nem precisavam, punham-se logo a grasnar para a mulher que vai à frente e que não há maneira de avançar no sinal, sempre escusavam de gastar a bateria, mas agora aos pedais é que não sei como é que chegavam.
O Brado das Pitas aos fins de semana lá dá um arranjo ao cabelo, frequenta ali a cabeleireira da Dona Joana, bem, cabeleireira unisexo, que ele é muito macho e não quer que o julguem por maricas, faz umas horas no solário de vez em quando para estar sempre morenito, ouvi dizer até que faz depilação, bom, os pêlos lá têm os seus inconvenientes, é verdade, quando uma pessoa tropeça neles até se engasga e vê as estrelas, é que há pêlos e pêlos, não há maneira de nos vermos livres deles, que treta esta coisa da evolução, se realmente houvesse evolução já não precisávamos deles para nada, que nem aquecem nem arrefecem, só estão lá para estorvar, como os da barba que um homem tem que rapar todos os dias, se bem que há quem os deixe crescer, eu cá é que não quero andar para aí com cara de escova de sapatos, por isso todos os dias uma pessoa lá tem que se pôr a raspar a cara até ficar com ela a arder, além do mais as lâminas estão pela hora da morte, estão, pois, não há orçamento que aguente tanto raspanço, todos os dias raspa de um lado e raspa do outro, na tropa até se punham com um papel para ver se arranhava e se arranhasse nem se ia de fim de semana a casa, tudo por causa dos pêlos, olhem que descaramento, então um homem não é para ter pêlos, se não fosse não era homem era uma bola de bilhar.
Pois aos fins de semana lá vai o Brado das Pitas à discoteca, corre bares aqui e acolá, a ver se alguma morde, que elas mordem, ai não que não mordem, há quem fique com as marcas como recordação, até há quem as coleccione e depois vai para os telejornais e outros programas televisionados mostrar como é que são as tais marcas, lembro-me de um do Algarve que ia, era por causa das estrangeiras, que pelos vistos não se dava lá muito bem com as portuguesas, as marcas das estrangeiras são mais apetecíveis, Versace, Armani, Fusco, Missoni, Anna Molinari, e mais uns quantos e quantas, vá-se lá saber porquê, se calhar são manias, e manias não se discutem, embora se tratem, há uns senhores que fazem vida disso, e ainda escrevem nos jornais e também aparecem na televisão, eis outra mania, a da televisão, ia eu dizendo que o Brado das Pitas queria era ser actor, só que era feio como uma bota da tropa, também não sei porque é que as botas da tropa hão-de ser feias e as outras todas, por exclusão de partes, bonitas, eu que as usei, que as tive que usar, que me mandavam e o pessoal que mandava não era para brincadeiras, está-se mesmo a ver uma pessoa chegar lá e dizer, não gosto dessas botas, são muito feias, o que eu gostava era de usar umas botinhas à maneira, se calhar mais levezinhas e confortáveis, se uma pessoa se saísse com uma destas levava era com as botas na cara, ai não que não levava, e ainda era pouco, o Brado das Pitas era feio, portanto, por isso não era nada provável que fosse aparecer na televisão, lá está a têvê outra vez, é mania mesmo, o que é que se há-de fazer, pois não recebe cartas de fãs entusiasmadas com a carinha que Deus lhe deu, e se recebesse era um sarilho porque não é lá muito dado a estas coisas da conversa por escrito, é mais trinta e um de boca, elas a convidarem-no para sair, para um copo, para a discoteca, e ele diz que só pelo telemóvel, por carta não, que se pode comprometer por escrito, é a desculpa dele, não é a minha, que eu cá é que não falo por ele, não falo por ninguém a não ser por mim e chega.