- Diz. Diz lá.
- Parvo!
- Vá lá, eu quero que digas. Quero-te ouvir dizer.
- Mas o que é que queres que eu te diga?
- Tudo. Quero que me digas tudo.
- Mas eu não tenho nada para te dizer...
- Tens. Eu sei que tens. Tu é que não queres.
- Já te disse...
- Não. Não me disseste.
- Mas o quê?
- Aquilo que tu sabes que eu quero que tu digas.
- O quê?!
- Tu sabes.
- Não, não sei.
- Eu sei que tu sabes que eu sei.
- Que eu sei o quê?
- O que eu quero que tu me digas.
- E isso é o quê?
- Aquilo que não me queres dizer.
- Parvo!
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- Vá. Fala comigo.
- ...
- Vá, diz-me.
- ...
- Eu sei que vais dizer, de qualquer maneira...
- ...
- Tenho a certeza absoluta.
- ...
- Nem que eu só saia daqui à meia-noite.
- ...
- Diz. Vá lá.
- ...
- Só uma vez. Uma só.
- ...
- Nem uma?
- ...
- Parvo!
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- O que é que disseste?
- Quando?
- Agora mesmo.
- Agora?
- Sim, agora mesmo. Repete lá.
- Mas o quê?
- Aquilo que acabaste de dizer.
- Mas o que é que eu acabei de dizer?
- Já não sabes?
- ...
- Ou já não queres dizer?
- Mas o quê?
- O que disseste mesmo agora.
- Já não me lembro.
- Ah, lembras-te, lembras-te. Não queres é dizer.
- A sério! Já não me lembro.
- Só sabes é dizer-me mentiras.
- Eu?!
- Sim.
- Mas que mentira é que eu disse?
- Sabes muito bem.
- Mas se eu não disse nada...
- Disseste, disseste. E agora dizes que já não te lembras.
- Não me lembro. Verdade.
- Parvo!