Para começar, alguns traços psicológicos, realçando, em primeiro lugar, uma persistente teimosia e uma tendência para a antipatia que deixa um tanto ou quanto a desejar em situações formais ou mundanas, temperada com alguma timidez, anteriormente mais acentuada e que agora fugiu no sentido do descaramento não exibicionista, radical quanto baste, para juntar à tal casmurrice, fraqueza acentuada face a alguns vícios mais frequentes, de que se destaca o tabacal, alguma lerdice e muita distracção, dir-se-ia com mais acerto tendência para a abstracção, mas não faz mal, que isto de ser politicamente correcto nem sempre é virtude, e a propósito de virtudes algumas há que merecem destaque, nomeadamente a lealdade, embora polvilhada de alguma conveniência, um tanto ou quanto de sensatez, com laivos ocasionais de ira quando ferve em pouca água, o que acontece de quando em vez, embora de forma esporádica, algum sentido de humor, que francamente não se adapta a fedores de gatos, mas antes mais à aspereza da ironia, alguma sensibilidade maior para as palavras do que para as conversas, onde se verifica uma capacidade para desligar-se de vez em quando da corrente para poupar neurónios, reduzida persistência e perseverança, e muita, muita preguiça, fisicamente nem alto nem baixo, nem gordo nem magro, nem forte nem fraco, com a velhice a entrar pelos cabelos que usa ainda compridos de maneira a disfarçar, talvez, o que geralmente acontece aos homens quando o tempo de repente lhes ataca o alto da cabeça, péssima dentadura, coisa que podia – e devia – ter evitado em tempos que já lá vão, olhos escuritos, coisa natural em portugueses, tal como os cabelos, que já vão mais brancos do que pretos, mãos fortes mas com unhas levadas por outro vício, nada elegantes, as mãos e o vício, diga-se de passagem, fanático das calças de ganga da marca crónica do judeu americano que é famoso por esse mesmo motivo, e um tanto ou quanto esquecido, senão não ficava já por aqui.