O senhor Fernandes tomou uma decisão um tanto ou quanto inusual na sua pessoa, que foi o de ir passar o fim de ano ao Algarve. Ficou porém um tanto ou quanto surpreendido ao verificar que afinal de contas tinha havido uma data de gente que lhe tinha copiado a ideia, estrangeiros inclusive, aliás por que carga de água haviam os estrangeiros de lhe copiar ideias, só se andassem a espiar-lhe os movimentos minuto a minuto, coisa que além do mais já há uns tempos desconfiava que lhe andavam a fazer, e ainda por cima o fim de ano deviam passá-lo noutro lado qualquer e não no Algarve, que as passas eram para os dentes dos portugueses, onde é que já se viu virem os estrangeiros esgotar as passas nos supermercados quando elas eram precisas para os portugueses engolirem a duziazita da ordem ao soarem as doze badaladas, se quiserem passas que as façam lá na terra deles, e se gostarem do sol pois que o importem de cá, que o país anda um tudo nada fraquito nas exportações e o negócio se calhar até dava um jeito.
Mas o pior foi ainda no regresso, quando se meteu à estrada no carrito mais a família toda e notou que, mais uma vez, lhe surgiram mais carros de todos os lados, já nem se podia ir na estrada para Lisboa sem que toda a gente também se metesse na estrada para Lisboa? Eram carros e mais carros, pequenos, médios e grandes, que havia para todos os gostos, gente e mais gente, a polícia num virote para a frente e para trás, a meterem-se-lhe à frente, a porem-se atrás do seu carro, já uma pessoa não pode dar uma voltita sem que o país inteiro lhe atravanque o caminho? Ora bolas.