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  • segunda-feira, janeiro 17, 2005

    Filantropias


    Ser benemérito tem que se lhe diga. Conheço um caso extremo, o senhor Alcides, que passa a vida inteira a dar donativos sempre que lhos pedem, não é capaz de resistir, boa alma como aquela não há muitas, não senhor, apesar da ingenuidade, vai o homem ao supermercado e pimba, lá estão duas meninas a pedir para o mundo amigo, para a associação dos raquíticos da reboleira, para os filantropos dos cidadãos com problemas de associativismo, para as amigas de são joão nepomuceno, os partidários do ateísmo crítico, a obra do padre antónio da damaia, as irmãs da solidariedade individualista, os insuficientes asmáticos, o grupo folclórico da fuzeta, a preservação do património por construir, uma panóplia de associações, organismos, fraternidades, instituições, indivíduos com esta ou aquela razão para andarem por aí a cravar o próximo, que nisto de pedinchinces o português sempre foi exímio em achar as mil e uma razões para se aproveitar da generosidade alheia.

    Pois o senhor Alcides tem a casa cheia de bonecos de peluche, de porta-chaves, de bandeirinhas e estandartes, de revistas e publicações oriundas do país inteiro e arredores, porque tenho a impressão que a sua fama de doador ultrapassou fronteiras e passou a receber solicitações de além-fronteiras. Volta e meia lá vai ele com uns caixotes cheios destes produtos para os entregar a uma qualquer obra piedosa, das tantas que há por aí, e que mal lhes viram costas despejam os caixotes no lixo, sem ver sequer se há ali material que alegre umas crianças nem que seja por um pedaço do dia, que tantos são os que passam por vezes sem que um sorriso lhes aflore aos lábios.

    E tem sempre a caixa de correio atulhada de papéis e publicações, sempre que chega a casa do trabalho praticamente não faz outra coisa senão ler aquilo tudo e passar um cheque para ali e outro para acolá, o banco já nem estranha os pedidos de livros de cheques, que são uns atrás dos outros, é mais uma despesa que lhe vai saindo do bolso, que os cheques também se pagam, ai se pagam, hoje em dia já não há nada de borla, por fim lá se decidiu por comprar uma daquelas cadernetas de cheques com não sei quantos, como se vê nas empresas e instituições oficiais, que era quase o caso do senhor Alcides, uma instituição de doações, embora particular.

    O homem lá se ia arruinando aos poucos e poucos, a mulher estava pelos cabelos, os filhos ao menos já tinham saído de casa e nunca mais nas suas vidas deram nada a quem quer que fosse, só vendiam, vacinados estavam eles, herança não teriam, certamente, a não ser a boa alma do pai, se bem que pelo caminho que levavam o que me parece é que da herança genética nem o cheiro lhes calhava. Lá em casa as refeições eram mais do que frugais, o dinheiro não dava para tudo, todos os meses ia pingando aos poucos e poucos para os cravanços que lhe batiam à porta, por assim dizer, que também será exagero dizer que andavam sempre a rondar-lhe o domicílio, era por demais se assim fosse.

    No outro dia finou-se. Tiveram que pedir emprestado para pagar-lhe o funeral e quem o acompanhou à última morada foram os familiares. Dos outros, os cravas, nem sinal. Ao menos que lhe oferecessem uma lápide. Mas nem isso. Que diabo!


    Posted by: Rezendes / segunda-feira, janeiro 17, 2005
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