Todos os dias a mulher plantava-se à porta da igreja, desde manhã até à noite. Antes de abrirem as portas já lá estava e ali ficava o dia inteiro até que as fechassem; fosse verão ou inverno, ou qualquer das estações de permeio, não falhava um dia. Havia quem pensasse que andava a pedir, mas não, nunca a tinham visto de mão estendida, não aceitava nada de ninguém, levava o seu próprio farnel, uma simples saquinha com comida e bebida que lhe dava para as muitas horas que ali passava.
Nos dias de missa de Galo era vê-la a altas horas da noite sempre no mesmo sítio, e a ceia de Natal era ali mesmo, sozinha, depois lá se ia embora, ninguém sabia para onde. Por meia dúzia de vezes houve quem tentasse segui-la, mas nada, trocava-lhes as voltas todas, às tantas por tantas tinham-na perdido de vista e já não havia nada a fazer senão voltar para trás, que os caminhos às vezes não vão dar a lado nenhum, nem sequer a Roma.
Quem se metesse com ela não levava resposta de espécie alguma, nem uma palavra nem um gesto nem um olhar nem um sorriso, era como se fosse de pedra, aquela mulher de carne e osso. Mas um dia, por tanta insistência de uma jornalista de um qualquer periódico, lá conseguiram arrancar-lhe breve conversa. De seu nome nada disse, nem de onde vinha nem em que casa morava, seria saber demais para quem não dava grande importância às palavras. Apenas quando lhe perguntaram porque ali ficava horas perdidas e o que queria, respondeu que queria receber Deus quando chegasse.