
É um rapaz, quase criança,
não se lhe pode ver o rosto,
ainda menos as mãos,
mas a toga está lá,
as pregas que lhe caem pelo corpo,
terá aprendido de família a fazê-las,
antiga decerto,
tão antiga como Roma.
Sabemo-lo criança,
agora um homem,
talvez não para já,
mas há nele uma pose
de quem é dono do mundo.
Não lhe sabemos o sorriso
nem a tristeza nos lábios
de um dia marchar à frente de outros homens
talvez encontre aí
o significado de existir.
Agora já não o sabemos,
e nunca o iremos descobrir.
Resta apenas a imagem de um corpo
e as pregas no tecido que o cobre,
de alto a baixo, como uma mortalha eterna.
Roma, 2002