
Quando o corcunda descobriu que tinha uma bossa nas costas, achou que mais valia aproveitar-se do que andar por aí a lamentar-se e a chorar pelos cantos. Vai daí deixava as moças passaram-lhe a mão pela dita (ao que diziam, dava sorte) e ele lá lhes ia passando as suas por onde calhava, umas vezes mais acima outras mais abaixo, um vê se te avias. Mais ou menos mão aqui e acolá, um dia acabou por dar de caras com uma rapariga que engraçou com ele. Casaram de capela e tudo, música a preceito, convidados enfarpelados, até um bispozito para lhes cantar a missinha, que o homem era dado a conhecimentos na diocese.
O pior é que a mulher era ciumenta com aquilo das costas e já não deixava que experimentassem a mãozinha da sorte. Estava convencida de que, se se desse a tais licenças, a fortuna havia de ir mirrando aos poucos e poucos, e ficava sem nada para si. E mais ainda: estava plenamente convicta que, esfregando a coisa todos os dias, mais cedo ou mais tarde ganhava o totoloto ou coisa que lhe valesse, despachava o homem com um dose de pesticida no arrozito do jantar e embarcava prás Antilhas, pró Brasil, São Tomé, um desses destinos de turistas que tivesse calor, praias e criados à ordem. Já tinha tirado o passaporte e volta e meia passava pela calada pelas agências de viagens e ia recolhendo uns folhetozitos que guardava com todo o cuidado nas gavetas da cómoda.
Mas um dia o caldo entornou-se quando, numas festas por altura da sexta-feira santa, deu de caras com o tal de bispo todo abraçado ao marido na sacristia da igreja a afagar-lhe a bossa nua e crua. Afinou, chamou todos os nomes que conhecia ao corcunda e ao bispo (outros até os inventou na altura), fez um escarcéu na igreja, a tal ponto que a missa das sete teve que ser anulada e as portas da igreja encerradas enquanto o bispo encetava uma retirada estratégica pelas traseiras.O corcunda é que não achou piada nenhuma ao exagero da mulher, meteu-a na rua e contratou um advogado (que fora seu padrinho de crisma) para meter os papéis do divórcio. Deixou a pobre da desgraçada sem nada, até conseguiu uma pensão devido à deficiência, e abalou para as Canárias. Ao que parece, vive hoje amancebado com um inglês reformado numa casa com piscina, court de ténis e cavalos. Continua a receber religiosamente a sua pensãozita todos os meses.