Gostava de saber ir pelo mundo
assim, devagar, como as árvores,
sobranceiras a tudo,
como quem viaja por cidades exóticas
e olha para a miséria dos outros
com um sorriso de máquina fotográfica,
mas fica-me a tristeza de ver a vida de mais perto,
de tão perto que até dói.
E então deita-se umas moedas num mealheiro qualquer,
manda-se uns livros numa caixa de papelão,
para tão longe que nem sabemos para onde vão,
e sonha-se a fingir que não sabemos
que há gente que não vive porque não pode viver.
Depois lê-se nas revistas da moda
a como são os hotéis, os aviões,
como é barata a vida dessa gente,
e traz-se para casa as fotografias
para mostrar aos amigos.