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  • segunda-feira, dezembro 13, 2004

    O que acontece quando as coisas desaparecem


    Abriu e fechou a gaveta, depois a outra por baixo daquela, o armário ao lado, o frigorífico, a arca congeladora, o forno do fogão a gás, o microondas, onde raio é que o teria metido? Ele há dias assim, uma pessoa perde uma coisa e depois anda à procura pela casa inteira e nada, até parece que a coisa perdida fica para ali escondida a rir a bandeiras despregadas, eu sei que estás à minha procura e eu aqui tão bem escondida, a olhar para ti e tu ceguinho de todo, não é hoje que vais dar comigo, e se calhar amanhã muito menos, hei-de dar contigo em maluco durante uma semana, ou mais, até desistires ou dares comigo por mero acaso.
    Certo, certo, é que aquilo lhe fazia falta, muita falta mesmo, e sentia a angústia subir-lhe aos ouvidos, pô-los a chiar, até os olhos já não conseguirem ver nada de nada, nem com óculos nem sem óculos, diabos levassem a vida, a casa, a empregada, a mulher, os dois pirralhos que tinha lá em casa e que às vezes se divertiam a esconder-lhe as coisas, o cão, isto sem falar na sogra que, dia sim, dia sim, se metia em arrumações porque achava que a casa estava sempre num pandemónio, e então quando se metia no escritório e começava a tirar os livros todos e a colocá-los nas estantes por ordem de tamanhos, então era um vê se te avias, ele nunca mais dava com nada, mas ela achava que assim é que estava bem, onde é que se tinha visto livros pequeninos misturados com livros grandes, aquilo até era um atentado à sensibilidade estética fosse de quem fosse, a dela principalmente, que era a que mais importava, e de nada lhe valia dizer-lhe que os tamanhos dos livros não podiam de modo nenhum servir de orientação para a maneira como estavam arrumados. Depois era uma semana inteira a meter aquilo tudo na ordem outra vez, sem tempo para fazer mais nada, após o que lá vinha novamente a sogra inexorável e o seu sentido estético e lhe punha tudo do avesso, andavam sempre nesta roda-viva, e se fechava a porta à chave ela lá arranjava maneira de a abrir, uma vez até tinha chamado um serralheiro quando ele não estava em casa e mandara-o arrombar a fechadura, instalar uma nova, escondendo depois a chave para ele não dar com ela e lhe fechar outra vez a porta.Agora nem conseguia encontrar as coisas mais simples, uma caixa de fósforos, o estojo dos óculos, o telemóvel, o comando da televisão, as chaves do carro, a carteira, e começara a deixar tudo enfiado nos bolsos das calças ou do casaco, ao menos aí estava livre da sogra, da empregada, dos filhos, da mulher, do cão, só lhe faltava qualquer dia lembrarem-se de lhe porem os bolsos em ordem, o pior era quando tinha de mudar de calças ou de casaco e deixava as coisas cá fora, de noite estavam lá e de manhã nem vê-las, sumiam misteriosamente, estava mesmo a ver que qualquer dia tinha de contratar um bruxo qualquer para lhe meter um feitiço na casa, nos bolsos, nos seus objectos pessoais, ou então montar uma ratoeira em todos os buracos da roupa para apanhar quem lá lhe metesse a mão, arranjar uma armadilha ou um cofre-forte para meter lá as coisas, pode ser que assim a coisa se resolvesse, embora tivesse as suas dúvidas. E o cúmulo era o raio do animal, que volta e meia ainda por cima lhe ia às calças e lhas roía todas, roubava-lhe as coisas dos bolsos e então adeus, era uma vez o que quer que fosse que lá estivesse.
    O pior, o pior de tudo mesmo, era sentir que a coisa estava lá escondida, a olhar para ele e a rir-se à sucapa, que é o que as coisas desaparecidas fazem.

    Posted by: Rezendes / segunda-feira, dezembro 13, 2004
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