Ele há gente cujo único propósito na vida parece ser o de infernizar a vida alheia. Estes castiços tipos portugueses acordam de manhã bem cedinho, abrem as janelas com o máximo estrépito para dizerem olá ao mundo e ficam em casa o dia inteiro a desempenhar as mais variadas tarefas. Destas, as variantes são as seguintes: berbequinar toda e qualquer superfície sólida com que se deparem; esgravatar tectos, paredes e soalhos com o maior dos empenhos; cozinhar o almoço logo bem cedinho mantendo desligado o extractor de fumos e cheiros para que a vizinhança inveje os acepipes que se encontram em fase de preparação; acolher os bebés alheios e entretê-los todo o dia com as mais belas cantorias (e vozes) do mercado da canção popular e infantil, preferencialmente esganiçando a voz para incentivar a educação musical do dito bebé desde a mais tenra infância, com a alegre acompanhamento de tachos, panelas e de preferência todo o trem de cozinha, imitando o ruído de descarrilamento do já referido trem; calcorrear com frequência todas as divisões da respectiva habitação para se assegurarem de que não mora lá mais ninguém; manifestar o seu enorme gosto pela decoração renovando a disposição do mobiliário pelo mais do que reconhecido método de arrastamento; fornecer gratuitamente os mais variados trechos musicais a toda a vizinhança sem quaisquer custos adicionais para esta, dinamizando o bom gosto musical de forma desinteressada e descomprometida; e ainda, como suplemento gratuito, fazer entender que uma das suas maiores preocupações é a limpeza e higiene, desenvolvendo matutinas actividades com o aspirador aos sábados, já que os restantes dias estão mais do que preenchidos com as tarefas supra-citadas, não deixando qualquer margem de manobra para uma alteração do calendário.
Eis um belo exemplo de solidariedade cívica, de inteligência e de gestão de recursos. Passe a ironia. Atentamente,