Tarefas domésticas de domingo:
a) Desfazer a árvore de Natal e arrumar o resto das decorações da festividade.
Comentário: Que remédio. Se uma pessoa se mete a fazer árvores de Natal, não vai certamente deixá-las o ano inteiro, até vir a aranha das teias e encher-lhe a casa inteira das ditas, eu sei que devia ser até ao dia de Reis, mas como tenho assim uma tendência para a preguiça, lá se vai adiando mais um dia ou outro até ser praticamente inevitável, já acima disse que também não a vou deixar para ali sem mais nem menos até ao ano que vem. Tradição é tradição, já dizia o título do filme, embora em circunstâncias assim um tudo nada diferentes, que não sou paquistanês nem emigrante na Inglaterra, só se tiver sido noutra vida, e como não sou budista nem nada que se pareça vou dando cabo das formigas e dos mosquitos e das melgas e do resto dos bichos que me vão infernizando a vida.
b) Pegar nas mesinhas herdadas que estão na sala e enfiar-lhes cuprinol pelos buracos do caruncho abaixo com um seringa e depois embrulhar aquilo tudo em papel celofane e deixar os bichos a sufocarem durante três semanas.
Comentário: Na verdade há produtos com nomes bem interessantes. Se calhar quem deu o nome a este devia estar nalgum urinol a olhar para o traseiro do parceiro do lado, vá-se lá saber. Agora que tive que ir comprar seringas à farmácia, lá isso tive, e uma pessoa quando vai à farmácia comprar seringas até parece que a olham de lado, devem ser os tais de estigmas, que eu disso não sei nada, nunca me aparecerem buracos nas mãos nem nos pés nem à volta da cabeça, mas há quem diga que já os teve, já li coisas sobre isso, até vi filmes, portanto alguma razão hão-de ter, quem sou eu para desconfiar, já me chega ter sido olhado de lado na farmácia e ter que explicar que era para o caruncho, ainda tenho que lá voltar e levar com os olhares mais uma vez, que estas não chegaram, o bicho tinha-lhes dado bem, e agora ainda vou ter que passar outro dia qualquer, se calhar outro domingo, de seringa na mão a descobrir os buraquinhos todos, que isto de descobrir buracos dá muito trabalho e tem que se lhe diga; o papel celofane também era pouco, descobri pelo meio que não sou tão precavido como pensava, mas os buracos eram mais do que imaginava, parece que também nisto sou um tanto ou quanto ingénuo, já devia saber que os buracos são sempre mais do que aquilo que se pensa.
A minha imprevidência endémica fez-me esquecer de comprar luvas, de maneira que fiquei com os dedos todos negros, unhas principalmente, e já que estamos quase no Carnaval se calhar vou ficar assim até lá, já não terei que me disfarçar, quem me vir dirá logo ali vai um operário, um carpinteiro, um mecânico, eu que tenho cá uma jeitaça para essas coisas que se vê logo pela minha cara, olha aquele que tem mesmo ar de jeitoso para bricolage, o português não tem termo tão preciso como o francês, parece que esta língua afinal ainda tem margem para invenções.
Depois disto tudo ainda tenho uns textos para ler, uns posts para escrever, o tempo, quando queremos, estica mesmo, é tudo uma questão de acrescentar minutos onde as horas parece que não têm mais para dar.